tag:blogger.com,1999:blog-76743752024-03-05T08:46:09.714+00:00Portulano Caprinopor João SalvadoUnknownnoreply@blogger.comBlogger77125tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-61227273313960610152023-08-21T22:44:00.001+01:002023-08-21T22:44:43.778+01:00Consulta Externa<p> <span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">O cenário é o consultório médico de um hospital público, teatralmente reproduzido.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Em jeito de didascália, adianto que nada me move contra o serviço público de saúde; pelo contrário, admiro-o e gabo-lhe a temeridade de ir conseguindo resistir às adversidades.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Regressando ao espaço cénico da minha consulta externa.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Depois de substancial tempo de espera - faz parte! - sou chamado ao gabinete.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Entro, “bom dia, dá-me licença?”, “faça favor de se sentar!” e aponta com a esferográfica </span><span style="color: #050505; font-family: inherit; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><a style="color: #385898; cursor: pointer; font-family: inherit;" tabindex="-1"></a></span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">para a cadeira em frente, levantando o olhar pouco acima dos meus joelhos.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Sento-me. Acomodo-me, sabendo que vou ser recebido mais como um vulto que traz um episódio clínico, que uma criatura que merece simpatia e atenção.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Conheço bem o burlesco dos minutos que se seguem.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Olho demoradamente a médica à minha frente, sei que tenho tempo para me divertir, para confabular pormenores, antes que ela me dirija um primeiro olhar e atenção humanizada.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Parece-me uma mulher sombria e velha. Veste-se como uma velha, uma pulseira que lhe chocalha no pulso, pouca agilidade no teclado, dificuldade e lentidão na gestão das janelas que se lhe vão abrindo no ecrã, a cuja imagem não tenho acesso.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Esta desprezível velha à minha frente é seguramente mais nova que eu. Acresce-lhe aquela riqueza que lhe atribui maior frescor, é detentora da chave, da interpretação da minha saúde.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Mais nova, em idade, mas mais velha em tudo o resto.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Que mulher será esta velha? Certamente terá vida para além das rotinas clínicas que vem aqui prestar, à pressa, três manhãs por semana. Que vida será? No intervalo de duas consultas deve ligar à empregada a relembrar-lhe que tempere os bifes antes de sair, que deixe dois dentes de alho descascados. Será mãe de filhos adultos, talvez seja avó. Alguém se deitará ao lado dela todas as noites, ambos fatigados, sem ardor para partilhar outras ânsias. Ao fim do dia chegará a casa cansada e deixará o carro ali à porta de uma qualquer moradia em Oeiras ou de um duplex na Nova Portela.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Esta médica será tudo isso ou talvez o contrário, pouco importa.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">O mais relevante foi eu ter ocupado estes minutos de incomodativo silêncio num divertido solilóquio motivado pelo burlesco de quem desconhece as regras básicas de atendimento e cortesia.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Até que a personagem dispara a primeira fala:
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- 64 anos! Já foi alguma vez operado?
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- Sim, doutora, há muitos anos, a uma hérnia cervical que por acaso até…
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- Tem próteses?
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- Não, doutora.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- Que medicamentos toma?
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">- Nenhum, doutora. Felizmente não tomo medicamentos!
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">É nesta altura, sempre neste momento da consulta, a que me habituei a chamar o fim do prólogo da representação, que se inverte a relação hierárquica entre as personagens. Em todas as consultas, este é o momento em que o médico ou a médica pousa os óculos de leitura e me olha finalmente nos olhos. Está sentenciado o “arco das personagens”.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">É também o momento em que esboço um sorriso tão ligeiro e rarefeito quanto me é possível, disfarçando o prazer na inversão de papéis.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Ali, dois personagens confrontados num instante visual e sem falas, desdobram-se em silenciosos mas expressivos pensamentos.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Eu penso, “sim, sou um privilegiado. Não sei durante quanto tempo mais, mas até agora a vida tem-me sido grata; jovial de cabeça e até de corpo, “so far, so good”
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Enquanto ela, “andei anos a queimar as pestanas, a estudar clínica, e chego aos 59 cheia de mazelas. Não me livro da sinvastatina, do lopressor oral, da glucosamina para a osteoartrite, da progestina para a amenorreia e até do lorazepam ao deitar; e vem-me agora esta carcaça de 64 anos, entupir a consulta externa com a historieta de uma dor inflamatória no pé, que lhe estraga as caminhadas!”
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Cai o pano.
</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">A ovação é só minha, ninguém mais está lá para aplaudir. Mas “so far, so good!</span></p><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-85715322108046846622023-01-26T00:04:00.013+00:002023-01-26T00:19:39.359+00:00Transfake<p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">O que se passou, o que esteve à volta da interrupção da peça do São Luiz na passada quinta-feira, pode ter sido uma questão bem mais complicada, ou talvez bem mais simples.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">A acção da atriz-prostituta-transexual (assim se definiu) keyla Brasil, não foi um acto isolado, teve participação e conivência de uma boa parte da plateia, que estava lá para isso.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">No vídeo que tem circulado nas redes sociais pode ver-se: a filmagem começa no momento em que Keyla, semi-nua, se levanta da cadeira. Uma câmara (telemóvel) de alguém sentado numa das filas dianteiras da plateia, aponta para trás, para captar o arranque, a descida da mulher ao longo da coxia central, gritando para o actor em cena "Transfake! Desça do palco, tenha respeito!”</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">O vídeo, na versão editada, é composto por 3 câmaras, três ângulos de enquadramento apontados à interveniente: a partir da plateia, lado esquerdo; da plateia, lado direito; e do balcão central. Num registo amador e informal, a “cobertura” do acontecimento denota algum cuidado profissional. Aquando da inflamada pregação de Keyla junto ao palco, há uma faixa vertical, com uns bons metros de altura, que é desenrolada e fica pendente do varandim do primeiro balcão. A faixa tem a palavra “transfake”. Durante a pregação de Keyla, ouvem-se alguns aplausos - de apoio, naturalmente - tão inflamados que mais estariam adequados a algum entusiasmo comicieiro, e não ao público de uma sala de teatro, denotando tratar-se de uma claque/acção organizada.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Alguns actores/actrizes voltam ao palco tentando amenizar a situação, o empolgamento de Keyla que entretanto se dirige directamente ao actor em causa gritando-lhe “André Patrício, por favor tenha ética, amanhã não retorne a este lugar!”</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">No entanto, a actriz Gayla Medeiros, a outra actriz transsexual no elenco, que a um canto aplaude a acção de ruptura do seu próprio espectáculo (!), usa da palavra, de punho erguido, justificando e empoderando o acto de Keyla Brasil, dizendo mesmo que tal acto vai ficar na “história de Portugal”.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">A intervenção do São Luiz é indiretamente reivindicada pelo MONART (Movimento Nacional Artistas Trans) que já tinha emitido um comunicado contra a presença do actor não “trans”, mas “cis” - convém estarmos familiarizados com as nomenclaturas.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">A questão do nome do actor/actriz a representar o minúsculo papel de Lola (a transsexual em causa) já era uma questão em aberto. As declarações do encenador já o apontavam. Portanto, tudo não terá passado de um pequeno ajuste de contas. O encenador Daniel Gorjão, sob a incómoda acusação de “transfóbico”, veio no dia seguinte ceder e substituir o actor em causa.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Eu fui ver a peça ontem, Domingo. Tinha um convite para a sessão da passada sexta-feira, a que faltei por dificuldades no trânsito, mas o convite foi generosamente estendido para ontem, último dia da peça em cena, acho.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Fui ver a peça, não fui ver a controvérsia nem a manif MONART à porta do São Luiz.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Sobre a controvérsia, o acontecimento, o que se me oferece comentar é o seguinte.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">A transsexualidade é um estado, não é uma causa. O/a transsexual é a pessoa que operou ou está a operar uma migração física e/ou de identidade de género, entre dois sexos. Tirando essa especificidade - ou não obstante essa especificidade -<span class="Apple-converted-space"> </span>o/a transexual é uma pessoa normal, com os mesmos direitos e deveres de qualquer cidadã/ão cisgénero, incluindo o direito a ser preterido em qualquer candidatura de trabalho, emprego ou tarefa, artística ou outra, por qualquer decisor ou empregador (no caso pendente o encenador e a companhia teatral) que com fundamento ou sem razão, a exerçam, nos limites da aplicação das leis laborais.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Um encenador pode pôr um actor homem a fazer de mulher, um branco a fazer de preto, um não fumador a fazer de fumador, um vegetariano a fazer de carniceiro de churrasco, tudo isto ou o inverso, por opção e valorização da intensidade dramática ou outra.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Tudo isto já aconteceu milhares de vezes no teatro e nas artes performativas e continuará a acontecer graças a deus.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">A questão central, o erro de Keyla Brasil e do MONART, é o de confundir representação com representatividade.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Qualquer encenador, qualquer companhia de teatro, é livre de escolher o elenco. O público vai ver (ou não) e se gostar bate palmas e recomenda, se não gostar vem-se embora e critica ou apupa.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Interromper uma peça, abortando um espetáculo, sob o pretexto de que este não devia ser o actor - “desça do palco, tenha ética, desça do palco!” - gritava Keyla, é um acto ignóbil de violência sobre um trabalho artístico/cultural. Baixo, indigno de memória longa, muito menos de ficar na “história de Portugal”, como na visão de Gayla Medeiros.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Na memória ficará apenas, e durante alguns dias, este triste gesto de cultura de cancelamento que, a repetir-se de forma mimética e consistente, irá levar a que os boinas da associação de comandos exijam ver actores seus nos papéis de soldados da guerra colonial; frades, freiras e monges em peças do Gil Vicente ou do Almeida Garrett; zarolhos a representar Camões; e tudo o mais a que o decalque representativo nos possa levar a imaginar.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Este wokismo, este justicialismo de plateia levará também a que cada companhia de teatro tenha que contratar policiamento e segurança para a boca de cena de cada espectáculo, sob pena de qualquer eventual representação teatral não ter garantido coerência com qualquer outro eventual grupo de espectadores ou cidadãos. Não apenas no elenco mas também na dramaturgia, nos figurinos, nos cenários, nas falas, em tudo o resto - “há que deitar abaixo a arte de que eu não gosto, ou não concordo!”</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Espero que não.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Espero que a actriz Gayla Medeiros nunca tenha razão.</span></p><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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Ou peut-être hier, je ne sais pas - é assim que começa L'Étranger, O Estrangeiro, de Camus.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Por qualquer razão insondável a frase de arranque ficou-me colada na memória, tanto quanto a obra.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">É mais que um incipit. Não é apenas uma frase de início, é um arrastão que leva consigo a energia, a entropia que o romance irá desenvolver.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">“Aujourd’hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas”, habitando silenciosa na minha memória, baixei-a para a escrita duas vezes. Há sete anos, no dia em que a frase literalmente fez sentido, e uns anos depois, quando faleceu o meu pai - pese embora a discordância de género a dor da perda paterna é-lhe equivalente.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Conheci, aquando da universidade de Aveiro, no Toc'Aqui jazz bar da Praça do Peixe, estabelecimento que acolhia os serões vazios de tantos docentes e quadros deslocados na cidade, uma professora do departamento de Línguas que gostava de falar de cultura e literatura, sobretudo da francesa. Um dia falámos de Camus e ela soltou um entusiástico e repentino "aujourd’hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas!” Fiquei fascinado, pensei ter encontrado ali, mais que uma cumplicidade cultural, um incipit de qualquer coisa. Mas não. Numa das minhas primeiras vindas a casa, a Lisboa, levei-lhe uma colectânia de CDs do Léo Ferré, coisa que eu muito estimava e com que ela desapareceu sem nunca devolver. Porquê? Je ne sais pas!.. Teria sido por causa daqueles versos do Ferré “...petite, tu as des yeux d'enfant malade et moi j'ai des yeux de marlou”? Não voltei a encontrá-la nos serões do Toc’Aqui. O desrespeito pelo compromisso de devolução de livros e discos emprestados é coisa que verdadeiramente me incomoda e que compromete qualquer amizade.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Tal como me incomoda um escritor que anda por aí. A antipatia - pessoal, mais que literária - que por ele alimento levou-me, há uns tempos numa livraria, a folhear uma obra sua acabada de editar, para lhe ler o arranque, na expectativa de que o incipit fosse fraco e eu pudesse confortar o meu legítimo fastio, a minha pequena repulsa de estimação.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">O livro começava mais ou menos assim, cito de memória: “Abriu o livro e procurou a primeira frase. Sempre ouviu dizer que o arranque de um livro é muito importante porque se percebe logo o que podemos esperar. Ficou surpreendido quando viu que a primeira frase dizia, abriu o livro e procurou a primeira frase. Perto dele, com o mesmo livro na mão, outro leitor espreitava também, e os seus olhares encontraram-se. Abriram ambos um livro e, julgando lê-lo, estavam a ser lidos. Voltou ao livro onde a história parece começar por…” E é aqui, finalmente, depois desta escusada construção em nariz-de-cera, deste salão de espelhos pretensiosamente literários em vácuo narrativo, é aqui que o livro arranca, sobre nada que tenha a ver com o que ficou dito, para definitivamente nos enfadar com uma história de pianistas.</span></p><p class="p1" style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-size: medium;">Eu, sem mais literaturas, devolvi o livro ao escaparate mas tive o cuidado de fazer aquele pequeno gesto de traquinice excitativa que faço habitualmente com os livros do Chagas Freitas ou do Paulo Coelho, que consiste em deixar o exemplar de costas, a contracapa virada para cima, o que sempre confere à obra menor visibilidade. Porque assiste ao leitor humilhado pelo escritor um direito de indignação, o incipit de não permitir estar simultaneamente dentro e fora de um livro que não quer ler.</span></p><span id="docs-internal-guid-2d7ee971-7fff-1b79-d603-347e5205f15c"><div><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div></span><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-91147069845859579872022-08-09T01:54:00.010+01:002022-08-09T04:08:02.595+01:00<p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Por onde passa este ano a Volta, não sei.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">No meu tempo a Volta passava por Quintela de Lampaças, Jorjais de Perafita, Busteliberne e outros locais de grandeza mágica. Guardo de todos uma doce memória e uma fotografia de repérage.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Em Quintela de Lampaças, a aldeia que enfeita a velha estrada entre Macedo de Cavaleiros e Bragança, encontrei a mulher mais bonita que o meu olhar terá porventura enxergado. Uma jovem de cabelos descuidados de um raro aloirado transmontano queimado pelo sol, pele de pêssego esmeralda - seria esse o seu nome? - sensualmente vestida de camponesa pobre, lenço e rodilha na cabeça, chinelos desajeitados; nada poderia ter sido mais cuidado numa eventual produção fotográfica para uma qualquer revista vanity a folhear nos lofts de Park Avenue, aí onde os ricos se torcem de inveja da felicidade desadornada dos pobres. Acompanhei-a com um varrimento de olhar durante uns dez metros. Segurava à corda uma vaca turina que levava a beber água no tanque do chafariz público. Os nossos olhares não se cruzaram. Não chegou a ver-me, acho. Não há nada para reparar num urbano encostado a um carro. Eu, sensível às belezas da vida e ela sem vida para sensibilidade ou belezas. O mundo está cheio destas harmonias improváveis. Não voltei a vê-la, claro, mas não me esqueço do encandeamento daquela tarde.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Jorjais de Perafita não seria nada não fora o assombro do nome e o facto da aldeia se exibir ao lado da estrada sem nunca a tocar. Vindo de Murça para Vila Real pouco há para ver além da paisagem agrícola e o enfadonho galvanizado de um rail de protecção que, imutável, sempre nos acompanha. À distância, espraia-se a aldeia paisagem que teima em acabar num cemitério. Jorjais sempre me pareceu uma aldeia-instalação, uma narrativa ali intencionalmente edificada, um território que anuncia ao viajante que tudo acaba sempre no seu fim.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p2" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Já em Busteliberne, uma aldeia entre Cabeceiras de Basto e Vieira do Minho - se é que se pode chamar aldeia ao casario abandonado que orna duas curvas da estrada - eu jurei que havia de comprar ali uma casa. “Para que queres tu uma casa em Busteliberne, nos confins do mundo?”, “eu quero que cheguem as tardes de sexta-feira para vos anunciar, aqui no ar condicionado do estúdio, que, xau até segunda, vou passar o fim de semana a Busteliberne!, e deixar-vos, todos, invejosos a murmurar e a perguntar porque é que este gajo vai passar todos os fins de semana à Suíça?"</span></p><p class="p2" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 14px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Lembro-me de uma outra vila a sul do Douro, de cujo nome já não estou seguro, talvez seja Tabuaço; o Pedro Luís e o Brites a marcar posições de praticável, paus de bandeira e passa-cabos e eu a alimentar conversa de circunstância com o autarca que nos acompanhava. A vila desenvolve-se ao longo de uma recta atravessada por pequenas perpendiculares. A recta era pista de aceleração para motorizadas, aquelas motorizadas proletárias de pequena cilindrada, famel e zundapps de zunido aflitivo, sempre no limite máximo da aceleração, a lampejar vertigem nos olhos e nos ouvidos de meia dúzia de jovens locais. “Estes tipos, a acelerar desta maneira e sem atenção aos cruzamentos, não se matam?”, perguntei. “Matam!” respondeu, “mas quando estes morrerem logo aparecem outros.” Assim, com a clareza e a desobrigação que se exige a um servidor público. Que lição, vinda de um autarca com o pelouro do “desporto, ajardinados e festividades”. Tanto ensinamento numa simples frase. Afinal a vida é um rodízio e nós andamos apenas a cumprir etapas.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><br /></span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Lembrei-me disto.</span></p><p class="p1" style="color: #454545; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">Mas para quê tantas palavras, tantas memórias à volta da Volta quando ficou tudo dito, e bem explicado, no cantar do Sérgio Godinho: “a descer a Boavista surgiram três atletas, um piloto, outro ciclista e o outro pintava as metas”.</span></p><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXCaQ0Ow9pOdC6esX1FNLD4FFyZ-CCpEbJuNDnIoQln5hOtS_Wyx2tURtK4f8jA_Aui5xPpcn1bBdbzPc4UHrI8HbwXiAAlxa73NiLbEFLxDHiKfwjrrAHjj2j0Ad6Uy_8mfc7/s1600/DJI_0209b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXCaQ0Ow9pOdC6esX1FNLD4FFyZ-CCpEbJuNDnIoQln5hOtS_Wyx2tURtK4f8jA_Aui5xPpcn1bBdbzPc4UHrI8HbwXiAAlxa73NiLbEFLxDHiKfwjrrAHjj2j0Ad6Uy_8mfc7/s320/DJI_0209b.jpg" width="320" /></a></div>
Caselas, Lisboa, Outubro 2019, final da tarde.<div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Bastaram-me trezentos metros a descer a rua do Alecrim e assomar cá ao fundo na rua de S. Paulo para perceber o que se está a passar na cidade. Qual gentrificação?! O que se passa é bem mais elaborado e modernista. Não é a cidade, é o mundo inteiro a transformar-se, a caminhar para um futuro que ainda não conhecemos. Por isso viajamos tanto. Somos formigas ansiosas em carreiros low cost. Anda toda a gente a viajar para qualquer destino enquanto pode, enquanto souber viajar.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Eu levava a cadela pela trela porque íamos ao veterinário ali em São Paulo. O passeio é estreito e os eléctricos passam rente, não se desviam - os eléctricos nunca se desviam - numa tira acanhada de calçada estragada, romântico decay como o turista gosta, pouco funcional e ao longo do novo pulsar do negócio urbano: tascas transformadas em lounge bar, outras em snack baguette, retrosarias que passaram a cash converters e paredes agora ATM onde antes havia multibanco. A cadela confinada a meio metro de trela, entre a parede com cheiro a cerveja mal mijada e o carril do eléctrico. Tudo está diferente.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Estranho. Turista na minha cidade, eu era agora o alvo de outros olhares, porque era diferente, “olha um autóctone com uma cadela pela trela e o dossier das vacinas debaixo do braço, so cute!” Nunca uma ida ao veterinário tinha derivado tão instagramável. Há gente com trolleys de cabine pela trela, a arrastar o rodado na calçada alfacinha, mas um gajo com uma cadela “gotta be a local”, porque ninguém faz airbnb com uma cadela, a menos que seja em sentido figurado.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Chegam todos os dias aos milhares, enchem as ruas de Lisboa para virem fazer aqui o mesmo que fazem na terra deles. As mesmas video-chamadas de whatsapp, os mesmos tanqueray e cappuccinos em mesas de terrace onde se fumam cigarros electrónicos, com a mesma música lounge. E eu, na ânsia de me mostrar hospitaleiro, didático, “no, we‘re not used to drink cappuccino, we usually drink bica, you know, tipical Portuguese coffee, yeah, bee-ka. There’s also garoto and italiana, that means kid and italian female...” Como é que se explica a uma finlandesa o que são os Santos Populares?, “now we have the popular saints, you know, parties all over and marchas... it means marches.”</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Useless.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Há quem venha de Tankavaara na Lapónia, visitar Lisboa, o que se compreende porque têm nove semanas de noite e no outro solstício outro tanto de lusco-fusco a que chamam dia. Mas há também quem venha de Velika Gorika que fica a setenta cêntimos de autocarro do aeroporto de Zagreb, porque compensa. Há quem venha de Catânia, na Sicília, e insista em registar-se no hostel como romano do sul, para evitar o preconceito. Há quem venha de Nizhni Novgorod converter em super bock os rublos extra que a fábrica lhe concedeu por ter aceitado renunciar a direitos laborais, e há até quem venha de Valea Dragului na Roménia para realizar uns trocos e umas carteiras no eléctrico 28.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Tomemos o exemplo de Tankavaara onde nunca fui, mas de onde vem a Bengta (acho que é assim que se escreve, retive apenas a fonética do nome, já estávamos um pouco toldados pelo ensolarado que batia nos copos de gin), “what a wonderful city you have, João, you gotta be so proud” - uma ideia para que nunca fui preparado, o orgulho municipal. Dito assim, soou-me a antítese daquele outro sentimento que se me apodera quando chega o IMI para pagar.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Pensei que poderia retribuir referindo qualquer coisa de elegante sobre a Finlândia: nokia, vodka, suomi... não, tudo muito fraco, nada de consistente me ocorreu. Optei por um “que experiência, goddamnit!, deve ser remarkable ter vivido paredes-meias com a velha Rússia bolchevique, São Petersburgo/Leningrado aí ao lado!”, mas traduzi paredes-meias por “so close to” - mau resultado, enfraqueceu a semântica. Pouco sei sobre a Finlândia e o que eu queria mesmo era conduzir a conversa para S. Petersburgo, depois para o Hermitage, a seguir para o Sokurov e o Arca Russa, aí estaria à vontade para falar seguramente mais meia hora - tenho territórios também - até que a lascividade do álcool viesse enfadar as palavras e do silêncio crescessem olhares e carícias, e antes que a Bengta pudesse disparar um mortal “gotta go!”, o que veio a acontecer. Mortal para mim, providencial para a cadela, farta do deck do lounge e talvez enjoada pelo efeito da antirrábica.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">O mundo está a mudar.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Talvez não muito mais que nas outras vezes em que também mudou. Mas agora estamos a vê-lo mudar, passa-se tudo aqui ao fundo da rua.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">As cidades, a minha cidade está a transfigurar-se. Mas para que servem as cidades senão para se submeterem à transformação. Eu gosto da Lisboa insurgente e acidentada, avessa a tipificações. Sempre a senti assim, calçada debaixo dos meus pés. Lisboa adúltera, empresto-a por uns tempos, não me importo, a quem vier fruí-la. Depois, madura, experiente e cansada, voltará a ser nossa. Só nós sabemos cuidar dela... “we are alfacinhas, you know, just like little lettuces, all words starting with al- have Arabic origin, you understand?”</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE82Zc5fcV3K8pbMlfx360-XcBwMI6uatjT3XFxfqoYWYqtW1nw97kFQ5u_oMG6zq3FBB8C6VSkVmjEbA63xxhVIGVUSdRP_vbdz2VUgLBGp8gPQpbJEUlVOYRxrS4t1AHWggs/s1600/euHoje.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE82Zc5fcV3K8pbMlfx360-XcBwMI6uatjT3XFxfqoYWYqtW1nw97kFQ5u_oMG6zq3FBB8C6VSkVmjEbA63xxhVIGVUSdRP_vbdz2VUgLBGp8gPQpbJEUlVOYRxrS4t1AHWggs/s400/euHoje.jpg" width="400" /></a></div>
photos by Joao Salvado<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCo1zuNzu8XhW4ct5FF68dXmvG_wB78cMX5ZpZ8pgZBJpPQvuEOd7Nq_65xPwbZO2htj50f4MurEpO5DytPQiQ7ndiSLpYC1tVayZiWbMx5CmuZB3xVAa-md4Hr0iC1xzab3YZ/s1600/teste2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCo1zuNzu8XhW4ct5FF68dXmvG_wB78cMX5ZpZ8pgZBJpPQvuEOd7Nq_65xPwbZO2htj50f4MurEpO5DytPQiQ7ndiSLpYC1tVayZiWbMx5CmuZB3xVAa-md4Hr0iC1xzab3YZ/s400/teste2.jpg" width="400" /></a></div>
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</style>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Claro que é rebeldia esta forma como exacerbo alguns comportamentos.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Puxo conversas sobre pitéus de cabidela ou costeletão de novilho, quando vou jantar a casa de amigos vegan; se educadamente me pedem que me abstenha de referir atrocidades animais, que razões ideológicas os impedem de falar sobre o assunto, eu disparo então sobre estudos científicos que provam o sofrimento do vegetal à beira da mastigação: a rúcula e o coentro que se apercebem da morte ao ver chover o tempero sobre a saladeira; a couve coração que perdeu a vida, inglória, no ritual de um festim sem glúten.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Também por rebeldia, esta é a única sexta-feira em que não prescindo de me banquetear com enfartados rodízios de carne vermelha.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Desnecessário, eu sei. Mas assim sou eu, Maria da Graça, portuguesa de 52 anos, moradora em Arroios - essa espécie de Tribeca lisboeta. Contraí o ateísmo em tenra idade. Valeu-me ter nascido filha de pais tolerantes, moldados pelos anos do amargo reviralho, que me aceitaram como sou, por amor, e contra a opinião do Dr. Passos do centro de saúde, que sempre lhes disse “levem-na a Fátima, pode ser que isso lhe passe” - o Passos morreu dois anos depois, de cancro do pâncreas, fulminante.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Muito nova, mas já rebelde, saí de casa e andei perdida durante meses na América do Sul onde cheguei a infectar-me de marxismo. Primeiro, na Argentina, na versão trotskista; depois, mais acima, na versão bolivarista, talvez mesmo guevarista, por causa de um gadelhudo de barba rala por quem me apaixonei em Machu Picchu. Um amor que durou quase dois meses.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Mais tarde e mais a norte, a persistência solar, alguma tequilha e a diversidade cromática, levaram-me a abandonar a causa “obrera” e aproximar-me definitivamente das manifestações do livre pensamento artístico. Andei pelas Artes e pela libertinagem moral - de onde nunca saí, em boa verdade. Alimentei na altura, um particular apreço por Frida Kahlo, ou por aquilo que ela representava, principalmente o desprendimento pelo corpo, a forma de o deixar viver, a ousadia de o libertar de atavios - a versão monocelha, por exemplo, sempre me fascinou.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Valeram-me os anos em que me senti possuída desse encantamento, até regressar a casa onde iniciei esta existência cinzenta de onde agora vos escrevo - mais anémica que académica - de uma modesta professora da António Arroio.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Aqui estou, hoje, sendo o que sou e fazendo a gestão possível do que aprendi e por onde passei.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E lembrei-me: que pena, na altura, naquele tempo, não ter tido atrevimento para subir ainda mais em latitude, e ir perder-me na generosidade dos costumes do Midwest, aprendendo aí os fundamentos da pós-modernidade política, tão actuais e que tanta falta me fizeram nesta última semana. Bem podia ter aqui opinado sobre a miudagem de Torremolinos, os gays da Chechénia, o Canelas, o Samaris e os cânticos da claque do Porto, ou a madrasta de todas as bombas e a sobremesa de chocolate do Trump antes do ataque à Síria.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Sendo que “pós-moderna” é mesmo (mais que a qualidade dos temas a debate) a forma como todos aderimos à narrativa fragmentada, à rejeição da linearidade, no modo como lemos a actualidade. Espezinhamos cada assunto com dois likes e um comentário, saltando depressa para o tema seguinte, que se faz tarde e que a actualidade é o AGORA, todo o resto já foi.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Hoje, graças a deus, lá me ligou pelo fixo, a tia Eugénia, de Grijó de Parada, a única irmã ainda viva do avô Lourenço que deus tem. Ela, alheia a pós-modernismos, mantém-se agarrada às narrativas lineares, sem que nunca tenha lido Proust, Virginia Woolf ou James Joyce.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Para a tia Eugénia, adaptada a esse solilóquio transmontano que cultiva e mede a passagem dos dias, há o Entrudo, segue-se a Quaresma e depois vem a Páscoa - e esta previsibilidade sequencial alimenta-a a em Felicidade, que inveja.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E pensei cá para mim: “se as pessoas me ligam, se são atenciosas e simpáticas, é porque se preocupam comigo e me querem ver feliz. Deixa estar, então. Por isso lhe agradeci e retribui: páscoa feliz também para si, tia Eugénia!”</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Mas fiquei a pensar, inquisitiva, o que quererá dizer isso de “páscoa feliz”?</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBp1weQcKm8yn6so-cKs7QXjC7iI8zwUObxb9ekK48wudwXq1QZlYdBFozZoXYI4IfN1lMFg-2YlMQJrFjPKdtgIecWckwc48makTbx5ed1q5VzbpZbxafdU4GbMWKYpXyvB3s/s1600/IMG_7467.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBp1weQcKm8yn6so-cKs7QXjC7iI8zwUObxb9ekK48wudwXq1QZlYdBFozZoXYI4IfN1lMFg-2YlMQJrFjPKdtgIecWckwc48makTbx5ed1q5VzbpZbxafdU4GbMWKYpXyvB3s/s400/IMG_7467.JPG" width="300" /></a></div>
<div class="p1">
<br /></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Em boa verdade eu não sei quem foi Magnus Bergstrom (o nome leva um trema por cima do "o", que aqui declino porque não o encontro no teclado) mas assumo que tenha sido um linguista, um filólogo, um especialista em língua portuguesa; conhecido da maioria, talvez, sendo que apenas eu, que tenho andado a tratar da minha vida por outros lados, a mim me tenha escapado. Ou talvez tenha sido “apenas” um respeitável académico, um investigador fechado num gabinete ou numa sala de aulas.<br />
Ainda que desfazer essa dúvida possa estar à curta distância de um click de google, eu prefiro não o saber, prefiro quedar-me a imaginar que Magnus Bergstrom é o homem com quem simpatizo.<br />
Cheguei ao nome dele porque ressalta na capa do velhinho Prontuário Ortográfico que uso frequentemente como ferramenta indispensável para qualquer escrita - escrita é qualquer coisa que se ponha no papel, até um mail de resposta à companhia de seguros merece ser redigido em bom português - o recíproco, na troca de correspondência, já não é verdadeiro: “o cliente irá rececionar uma carta… onde o conteúdo por defeito…” <br />
Eu uso uma edição velhinha e amarelada, datada de 1975, que serve muito bem, vai-se aguentando ao manuseamento e resiste às recentes tiradas contra-revolucionárias que têm desferido sobre a ortografia.<br />
Cada vez que pego no velho prontuário lá está aquele nome estrangeiro, um dos autores da obra, um nome tão agradavelmente dissonante na fonética da minha língua. Foi isso que me chamou a atenção. Simpatizei com a diferença. O que também pode configurar um pequeno episódio de xenofilia. <br />
O bom manejo da língua é um exercício exigente mas que merece ser exercitado em toda a parte. Aqui, por exemplo. Abro uma mensagem: “obrigado por ter aceite o meu pedido de amizade”. Fico logo triste quando a amizade começa com uma falta ao primeiro encontro marcado. Será que eu deveria responder de imediato, ferindo a amizade recente, assumindo frontalidade, quase arrogância, mas explicar “não é ter aceite, mas sim ter aceitado.”?<br />
Outra coisa que verdadeiramente me encanita é a troca do verbo “dizer” pelo “falar”. Não sou mesmo nada transitivo a este “brasileirismo”: “...você falou que vinha cá na semana passada, mas não apareceu!” - claro que não pus lá os pés, a falarem comigo dessa maneira!</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Cresci em redacções onde havia sempre três ou quatro “bíblias” sobre a secretária: o dicionário, a gramática, o prontuário ortográfico e o livro de estilo. Melhor, nalgumas o livro de estilo não existia em papel, era cantado, estava-nos na cabeça e na alma. Por exemplo, naquele tempo, ai daquele que no próximo mês de Maio viesse aqui chamar ao Papa “Santo Padre”, sabendo que estava a escrever para um universo laico.<br />
Hoje tudo é diferente. Quando se escreve temos na tecla ao lado o Priberam ou a Diciopédia, o corrector de texto e o auto-complete, o Ciberdúvidas e a Wiki, ou qualquer App apropriada. Ainda assim pouca circunspecção e dejúrio merece o tratamento da nossa língua.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Lembro-me, uma tarde eu estava numa cidade de província do Paraná, já próximo da fronteira com o Paraguai, e alimentava uma conversa prosaica com uns conhecimentos recentes. Tudo gente local, brasileiros filhos de imigrantes ou imigrantes de segunda geração - ou melhor, colonos, porque no Novo Mundo o conceito de imigrante não é coincidente com o que temos aqui na Europa. Naquela tarde, assim eu tivesse guardado uma fotografia do momento, seria marcante analisar a diversidade de fácies nos interlocutores da conversa. Eu estava ali a falar com um lívido japonês; com dois loiros, um alemão e outro polaco; com outro mais escurinho, que era indiano; também um nordestino; um negro baiano; e acho que havia ainda um russo ou eslavo leste-europeu. Que torre de Babel... era como se tivéssemos reunido um mundo inteiro. Um mundo apartado pelas diferenças étnicas mas agregado por dois elementos sagrados que ali partilhávamos: o solo fértil que pisávamos, o solo brasileiro; e a plasticidade, a riqueza de uma língua comum, a língua portuguesa - qual esperanto, a minha língua! Todos ali, ligados, e era o meu lastro linguístico, o que me corre nas veias, que nos viabilizava a comunicação. Senti-me naquele momento acometido de um natural ataque de pieguice, difícil de justificar perante a amálgama de portadores de diferentes costumes e sentimentos - que orgulho patrimonial.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Por isso, Magnus Bergstrom, Carolina Michaelis (também ela leva trema), Lindley Cintra, Elza Paxeco, Lúcia Lepecki (e outros tantos que eu certamente desconheço), a todos muito obrigado pelo trabalho que dedicaram à língua portuguesa; quer tenhais nascido estrangeiros ou sejais portugueses de ascendência alienígena. Vós alimentais aqui o meu rebate xenófilo, que é igualmente um sentimento nobre e oportuno nos dias que correm, em que a aversão ao que é estranho e distante, nos predomina no pensamento.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Vós, para mim, sois como se um amigo de longe nos tivesse vindo ajudar a arrumar a casa.</span></div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Bem hajam.</span></div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Faltam seis meses, pouco mais, para que uma pequena equipa médica, em representação desse enorme lastro parental a que chamamos “toda a Humanidade”, proceda ao primeiro transplante de cabeça... que, de facto, consiste exactamente no inverso: uma cabeça vai receber, por transplante, um corpo inteiro. Um russo, de apelido Spiridonov, que sofre de atrofia muscular espinhal que lhe torna o corpo inútil, irá receber, em Dezembro, o corpo inteirinho de um qualquer dador, alguém funcionalmente saudável mas em morte cerebral.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">O neurocirurgião italiano que anda há 30 anos a preparar a aventura, vai cortar a cabeça ao russo, arrefecê-la, colar cabeça boa ao corpo bom (vai demorar dia e meio e envolver 150 pessoas), deitar fora o outro par que não presta (cabeça e corpo estragados), e manter o novo indivíduo "recapitado" em coma induzido durante mais de um mês até a coisa estabilizar, para depois, se tudo correr bem, o senhor Spiridonov "ir" pela primeira vez à sua vida. Oxalá que sim.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Os pormenores da intervenção cirúrgica (lidos por aí), sendo de um inexcedível rigor científico, soam-me descomunalmente mórbidos. Mais tenebroso ainda, porque preocupante, é tudo o que lhe está por detrás, ou à frente; ora visível, ora dissimulado:</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">- a ciência e a tecnologia que já permitem fazer tudo, ou quase tudo;</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">- a ética que nos obrigaria a parar para pensar, mas infelizmente não temos tempo;</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">- algum mercantilismo (médico, entre outros) que se escapa pelos interstícios da ética e da regulação, oferecendo todas as soluções de "vida" a quem quer seja, desde que bem pagas;</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">- o livre arbítrio, que todos reivindicamos, de podermos fazer do nosso corpo aquilo que quisermos, até mesmo transformá-lo num bizarro “não-corpo”.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Começámos por achar normal retirar do corpo os sinais de deselegância e de envelhecimento - botox, plásticas, silicones, implantes. Também é normal e desejável substituir órgãos que deixaram de ser funcionais. Depois é aceitável não aceitar envelhecer. E, em última análise, não morrer. (Não valerá a pena ir procurar na ficção, na literatura, “saramaguista” ou outra, histórias premonitórias sobre o desaparecimento da morte).</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">A um outro nível: é aceitável resolver conflitos de identidade. Mudança de género - de homem para mulher, ou o inverso; mas até de homem ou mulher para nada, para assexuado, isto é, para “sem género”, apenas por opção.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Há ainda a clonagem, os estaminais, e tudo o que no limite se pode fazer, com dedo apurado, nas biotecnologias. E por aí fora...</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Quando analisadas caso a caso, (quase) todas as intervenções são legítimas porque resolvem problemas, salvam vidas, poupam conflitos de identidade. Mas vistas em abstracto, como "tendência", muitas parecem actos contra-natura, ainda antes que alguém saque dos argumentos e das incidências religiosas.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Era bom que parássemos um bocadinho para pensar sobre estes assuntos - todos nós. Para termos ideias claras acerca dos limites que nos devemos impor. Ou não devemos impor limites?</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Devíamos falar sobre isto.</span></div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-size: large;">Eu por mim estou disponível neste fim de semana. Não sei como estará a agenda do resto da Humanidade, mas como é dia de futebol, temo que o assunto ainda não fique resolvido desta vez.</span></div>
</div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Tenho saudades da leitura de jornais em papel e daquele desconforto dos braços esticados, para os broadsheet, mas bem mais agradável nos tablóides - no conteúdo dos artigos era talvez o inverso. Saudades do barulho do súbito folhear das páginas e até do cheiro a tinta e da sujidade que ela deixava nos dedos.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Tenho saudades de tocar nos botões de campainha, à porta - dois toques curtos, como quem anuncia “cheguei, fico aqui em baixo à tua espera”.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Até tenho saudades de esperar na bicha da cabina telefónica. De fazer cá fora um olhar intimidante para pressionar o demorado utilizador “sê telegráfico na conversa. Isto não é para vir para aqui namorar, há mais gente à espera!” e receber em troca, pelos quadradinhos envidraçados, um ambivalente sorriso amarelo que queria dizer simpatia para o interlocutor em linha mas desdém para quem ameaça de fora do abrigo.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;">Mas do que tenho mesmo muitas saudades é daquele embaraço ao balcão da capelista, quando ia levantar os rolos de fotografia que vinham da revelação - “tinha pedido em papel matte sem margens, não era? Veja lá se está tudo bem”. Eu abria o envelope e espreitava envergonhadamente duas ou três fotografias, salteadas “acho que sim, parece-me bem”. Só depois, já fora da loja, me atrevia no descaro de rever todas as fotografias e sentir, uma a uma, a confirmação da dúvida, da desilusão ou do prazer, e sobretudo da ânsia que cada um daqueles disparos de obturador tinha representado em momento próprio, que tão nítido ainda retinha na memória.</span></div>
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<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">A pretexto de experimentar uma nova objectiva saí para a rua, para fazer umas fotografias. Escolhi um motivo. Era verão, a cidade estava cheia de turistas, decidi fazer <i>selfies</i> - aliás, pessoas que se fotografam em <i>selfies</i>. Em dois ou três dias fiz milhares de fotos das quais uma centena, nem isso, podem ser consideradas interessantes. A seguir resolvi inventar pequenas histórias à volta das fotos mais expressivas. São narrativas imaginadas sobre pessoas que não conheço e com quem me cruzei, e uni, nessa cumplicidade do instante fotográfico.</span></div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Aqui ficam três ou quatro exemplos.</span></div>
<br /></div>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial"; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial"; font-size: 11pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxp2sK2CbBwiMd9NiNPb3JBF_I1A9fpUylap5mPi78LsJkTZrjvyP55ICe_5RYO78_D8Ccq2deaEKT364qQf5eHJrqRN9YMnukVic7XCRrDEqZB-VMVI5rqjBobEIkqQsjY09b/s1600/Selfies1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxp2sK2CbBwiMd9NiNPb3JBF_I1A9fpUylap5mPi78LsJkTZrjvyP55ICe_5RYO78_D8Ccq2deaEKT364qQf5eHJrqRN9YMnukVic7XCRrDEqZB-VMVI5rqjBobEIkqQsjY09b/s400/Selfies1.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLwzufuMdoXeMyKrW86KdVHkVzSVglCMBAUpIenM9vlsZH7dRk9ZWwznjaViEUoKnsw-FgP0k16Gs7uPhXLjPuyfCR_JRa-k6cL0o7dHw05FGylR5Wj0dDBF6aFzdsc041y0Fl/s1600/selfies2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLwzufuMdoXeMyKrW86KdVHkVzSVglCMBAUpIenM9vlsZH7dRk9ZWwznjaViEUoKnsw-FgP0k16Gs7uPhXLjPuyfCR_JRa-k6cL0o7dHw05FGylR5Wj0dDBF6aFzdsc041y0Fl/s400/selfies2.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixbxP1Eu2UOPoimPRwoQSafzLgz7g3EMN58Is4bXH44kiwoK4n1RsmOpIpmA6bK1IcRToolcdgCcyj84fkuT-wz9H62jzVUvzTAeLCPQKVoylwfc0r_ba-KUpmGjTOyR_vPZWz/s1600/selfies3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixbxP1Eu2UOPoimPRwoQSafzLgz7g3EMN58Is4bXH44kiwoK4n1RsmOpIpmA6bK1IcRToolcdgCcyj84fkuT-wz9H62jzVUvzTAeLCPQKVoylwfc0r_ba-KUpmGjTOyR_vPZWz/s400/selfies3.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihr-Wn6qtOxbOB3FzopQV2U-LecTuBQ2X4f_UchSHaE9SLuOb-dqbi_ZxSQk9I7AS8HmcJrUaR8DWH67QJqxoVyrZCHHHtJSuW3rExSLnFyr6ykTu_4L27gfymjKCs4Utw0e4B/s1600/selfies4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihr-Wn6qtOxbOB3FzopQV2U-LecTuBQ2X4f_UchSHaE9SLuOb-dqbi_ZxSQk9I7AS8HmcJrUaR8DWH67QJqxoVyrZCHHHtJSuW3rExSLnFyr6ykTu_4L27gfymjKCs4Utw0e4B/s400/selfies4.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial"; font-size: 11pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMEqoYoyIwx74fgvI2wvITOgVw9c3CaHfXeDuGkBE-mTyx41Sq2VeTDlQP3yFchxjRRzW6YLBv5GZdna55DPmNBjgjrZzvju8IUX_DTOAAcBz3DkJMQhibiktaTnkQAw9HJKIf/s1600/benning.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMEqoYoyIwx74fgvI2wvITOgVw9c3CaHfXeDuGkBE-mTyx41Sq2VeTDlQP3yFchxjRRzW6YLBv5GZdna55DPmNBjgjrZzvju8IUX_DTOAAcBz3DkJMQhibiktaTnkQAw9HJKIf/s400/benning.png" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">20th Century Women, “Mulheres do Século XX” é (para mim) a melhor surpresa das nomeações para os Oscars 2017.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">É uma incursão do cinema mumblecore - a mais interessante corrente de cinema independente da última década - às portas de Hollywood. Um cinema que privilegia a estética ao espectáculo, a narrativa mental à acção, a extensão narrativa ao orçamento de produção. E que talvez por isso tenho criado anticorpos em Hollywood.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">A carimbar a linhagem “mumblecore” está a actriz Greta Gerwig que assina com Annette Bening duas talentosas interpretações, em que Hollywood entendeu agora não reparar.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Um filme que nos fala da forma como “vivemos” - tirando eu aqui partido, no nosso português, da homografia dos diferentes tempos verbais, o presente e o pretérito.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">O filme acomoda-se a uma única nomeação para os Oscars - a de candidato a melhor argumento original. Faltam-lhe certamente as nomeações para um ou dois papéis de interpretação, talvez para Melhor Realização ou para Melhor Filme, mas seguramente a de candidato ao melhor Production Design.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Está de parabéns Mike Mills que foi beber à sua infância a poética história em que aqui nos faz deliciosamente mergulhar, com uma motivação agravante no meu caso, fiquei apaixonado pela casa onde tudo aquilo se passa.</span></div>
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p.p1 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; font: 12.0px 'Helvetica Neue'; color: #454545}
</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Um filme a não perder.</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHyLcPLzyKTlyx-IbDllgxteQUIULIuWbXVcim5DBDB-E894tFNRFNQA-RRYEkDiQyg4UF7BkkLVOVfu-YGI-K4M6s7IttA_DdFERUVvv9negucBkev8D8ZxeNxoR5nbzSGdkJ/s1600/CaisColunas2013.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="156" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHyLcPLzyKTlyx-IbDllgxteQUIULIuWbXVcim5DBDB-E894tFNRFNQA-RRYEkDiQyg4UF7BkkLVOVfu-YGI-K4M6s7IttA_DdFERUVvv9negucBkev8D8ZxeNxoR5nbzSGdkJ/s400/CaisColunas2013.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Praça do Comércio/Cais das colunas #1 - Lisboa</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">© photo by João Salvado</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">August 2013</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcTp8rcfbgLd4gflquP3pfD98-qixU72R9iWodmfXv1LKWMktL6_D5VuFmXqwTx8niazI067oy3WVaWdB4_SG21-LZ9Yk9G8l7Af6Du_GW5Caj-QYKWA9JqPmdG1kTmG8xscBO/s1600/LisbonCityDetail.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcTp8rcfbgLd4gflquP3pfD98-qixU72R9iWodmfXv1LKWMktL6_D5VuFmXqwTx8niazI067oy3WVaWdB4_SG21-LZ9Yk9G8l7Af6Du_GW5Caj-QYKWA9JqPmdG1kTmG8xscBO/s400/LisbonCityDetail.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Praça do Comércio/Cais das colunas #2 - Lisboa</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">© photo by João Salvado</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">August 2013</span></div>
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<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Aquilo que mais me encantou na “Caixa de Fósforos”, o livro de Nicholson Baker, quando o li há uns anos, foi a capacidade do escritor de nos impor a obrigatoriedade de pairar demoradamente sobre o tempo parado da narrativa.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">O romance conta a história de um homem que todas as manhãs, muito cedo, acende a lareira e prepara a casa para acolher o frio dos dias, sempre envolvido em pequenas tarefas que lhe afogueiam longos pensamentos, que vai narrando. O gesto de riscar um fósforo para a lareira pode ser uma tarefa que, na minúcia do escritor, rende um capítulo inteiro de literatura.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">A escrita infiltra-se nas frestas de um tempo que não existe, como num efeito cinematográfico de “time freeze” onde a acção parou, os intervenientes paralisaram, mas nós continuamos a andar por lá, alongando-nos na observação do momento. O que requer uma escrita de fragmentação, tão oposta aquela outra que impõe velocidade à narrativa com o objectivo de chegar rápido ao sumo do enredo, da trama, ao desembaraço da acção. É como viajar à solta num tempo parado, numa navegação de memória pelos interstícios reticulares do tempo. Penso nisso muitas vezes. Por exemplo, quando de manhã me envolvo no automatismo de preparar o café.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Por isso hoje decidi contar os gestos, os tiques que requer esta empreitada matinal de fazer café. Anotei-os no pequeno caderno onde guardo outras futilidades. São exactamente 49 passos desde o primeiro toque na cafeteira eléctrica até ao momento em que a chávena quente me toca os lábios .</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Quase cinquenta pequenos movimentos, micro-tarefas, aberturas e fechos, giros e rodeios, alcances, abduções, afastamentos, impulsos e toques, que pratico ainda ensonado e de forma quase automática, instintivamente, onde a coordenação motora age independentemente do cérebro ainda semi adormecido. </span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Depois do café, mais desperto, consultei as notas. O passo 14, por exemplo, refere o momento em que a pequena colher de madeira, em forma de pá, retoma o seu lugar dentro da lata, enterrando-se na moagem, empinada, em estaca, evitando que o cabo táctil onde os dedos deixam marca, contacte o pó enxuto.</span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Já os passos 20 e 21 referem momentos sensitivos: o primeiro é sonoro, quando começa a soar na máquina o gorgolar da água em fervura; o outro é olfativo, quando se sentem pela casa as exalações do aroma da bebida.</span></div>
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</style>
<br />
<div class="p1">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: large;">Esta fruição sensorial teve que ser acompanhada por uma outra ousadia, a de retirar para local inacessível a máquina nespresso. Renunciei à tecnologia do café de cápsula por razões ideológicas, ambientais, comerciais e outras. Agora regressado à envolvência bucólica que emerge desta história, revejo-me no gozo de me ir apeando de mecanizações excessivas. Da mesma forma, não haveria obra literária se porventura o protagonista de Nicholson Baker tivesse em casa ar condicionado em vez de lareira.</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCXpKYLgTOxOimluc35O801cHmag3BoYkQjmi1fKV40Bp6uY4fkuJBugpbp42iwwxiSAhgYGUY7mK2yDz8M8_SnotsNU7neMV5B6LsoeiIdrDezaYJVxZZQZicDCWkM54lg0kT/s1600/copos.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCXpKYLgTOxOimluc35O801cHmag3BoYkQjmi1fKV40Bp6uY4fkuJBugpbp42iwwxiSAhgYGUY7mK2yDz8M8_SnotsNU7neMV5B6LsoeiIdrDezaYJVxZZQZicDCWkM54lg0kT/s400/copos.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: xx-small;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Do que é que eu não gostei no (filme) Moonlight?</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Houve apenas uma coisa que me incomodou. E incomodou bastante.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Não, não foi o tema da homossexualidade, que isso é assunto mais que acomodado nos tempos que correm - talvez ainda não acomodado por toda a gente, mas para gente como nós, que ainda tem 7 euros para pagar por uma cadeira de cinema, os desígnios da sexualidade, nas diversas variações de género, representam apenas factores de coloração da entrega dos afectos.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Não, também não foi o black trash suburbano de Miami, os ghetto dwellers, os crack head neighbors dos arredores, a desestruturação familiar, a toxicodependência parental, que para ver isso não é preciso ir aos slums da América, temos por cá equivalente.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Também não foi o cerco da realização cinematográfica (ou da “cinematografia”, se quisermos), angustiante, quase claustrofóbica, de curta distância focal, de fundos desfocados, da câmara handheld que olha a acção e se mexe misturada com os protagonistas; nem sequer das cores saturadas, duras, intencionalmente a queimar.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Não foi nada isso.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">O que me incomodou verdadeiramente foi um detalhe da longa cena final (supostamente o desenlace romântico da história) em que "lover um" revisita "lover dois", na lanchonete do segundo. O intimismo do encontro mereceu ser celebrado com um bom vinho e lá vem então a garrafa de um tinto (provavelmente) italiano, quando - pasme-se - é bebido à americana. Ou seja, em copos de plástico modelo highball ou parecido, altos e de cor, adequados a servir água ou refrigerante.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Aí o drama romântico, para mim, parou. Veio-me à garganta aquele refluxo de antipatia cultural, de distância àquela América que bebe cerveja pela lata, mas também bebe whiskey pela garrafa e haveria de beber de igual forma, se o apanhasse, um Château Lafite Rothschild… ou não, porque no copo sempre se poderia misturar gelo e seven-up.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">É a América que come à mesa só com garfo, a outra mão pousada sobre o joelho. Aquela América que numas coisas é tanto à frente e noutras quase debutante em civilização.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Foi apenas isso que me incomodou no Moonlight. E assumi que o detalhe não terá sido posto na fita sob um olhar crítico, ou como elemento semiótico e significante da dramaturgia. Está lá e daquela maneira porque é intrínseco à cultura americana. Faz parte.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">É a terra e a cultura onde uma vez embasbaquei um anfitrião porque lhe pedi se podia, faz favor, ter um copo para beber a cerveja.</span></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<style type="text/css">
p.p1 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; font: 12.0px 'Helvetica Neue'; color: #454545}
</style>
<br />
<div class="p1">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">(Onde se lê “América”, deve ler-se sempre “Estados Unidos”.)</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdr_eB9tmNepGTp2uGlB8NFphyy1qYel-Ky7QrGjoaAFlDKRQBER4iYvm0Auh1Gs0o19ckyZTvFgbUClYyJqhQZUAs0RttvLOToYBqx1C1a22ZAVlVvX5vwx4pN4GOpsOqkOLP/s1600/16487889_10209797057941942_5791461872688508253_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdr_eB9tmNepGTp2uGlB8NFphyy1qYel-Ky7QrGjoaAFlDKRQBER4iYvm0Auh1Gs0o19ckyZTvFgbUClYyJqhQZUAs0RttvLOToYBqx1C1a22ZAVlVvX5vwx4pN4GOpsOqkOLP/s640/16487889_10209797057941942_5791461872688508253_o.jpg" width="425" /></a></div>
<span style="font-family: "calibri"; font-size: 12pt; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-family: "calibri"; font-size: 12pt; white-space: pre-wrap;">Saíamos do cinema às três da manhã e ainda íamos à Alga comer um bife. O Quarteto tinha sessões da meia noite, dois filmes de culto que só cabeças refrescadas como a do Pedro Bandeira Freire conseguiam aguentar - um Agnès Varda e logo a seguir um Visconti, por exemplo. A Alga era pouco mais que um balcão corrido. O Loja Neves anotava tudo num caderninho de goodies que, se ainda o tiver, valerá milhões. O Loja fumava demais. Cigarros sem filtro. Português suave, acho.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Já não me lembro como é que o Zé Velho ia para casa nas sextas à noite. Morava em Odivelas. Nos outros dias saía do cineclube e apanhava o último metro na Avenida, ao fundo a rua do Salitre. Andava de cabeça perdida com a história da fauna social que povoava o último comboio para Entrecampos - seguranças, operários da noite, prostitutas, intelectuais, boémios, empregadas da limpeza, etc. Já toda gente se conhecia. Entre a Rotunda e o terminal de Entrecampos eram uma família. Queria reduzi-los a um guião. E nós já lhe tínhamos encontrado um título para a versão internacional, “The Last Train to Between Fields”. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O Mário saía menos connosco à noite. Morava em Sintra em casa dos avós. Numa tarde de sábado fui visitá-lo. Lembro-me do ar faustoso da casa apalaçada, tapada por heras e colunas de pedra ofuscadas por uma pátina de líquens, e um jardim que subia em socalcos até se misturar com a serra. Nesse dia inventámos uma nova corrente estética, ideológica e cinematográfica. Chamamos-lhe “neo-revanchismo”. O neo-revanchismo durou uma tarde, matámo-lo no dia seguinte. Conseguimos ser ainda mais expeditos a renegar a própria criação que o Lars Von Trier no Dogma 95.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Perto de Sintra vivia também o Tátá - ainda não tinha saído do armário - chamávamos-lhe Nosferatu de Galamares. Gostava de cinema e de ilusionismo. Um dia desapareceu num truque de close up.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eram estas as nossas expedições punitivas.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Estávamos em que ano? Não sei exactamente. Mas nessa altura, num outro ponto da cidade, sem que o soubéssemos, estaria o Dinis Machado a bater à máquina O que diz Molero.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Num dia normal eu saía das aulas do Alpern ou do Esperança Pina, no Campo de Santana, ignorava a provocação de ofertas pagãs à volta da estátua do Sousa Martins, ali mesmo ao lado, e entrava no Instituto Alemão, junto ao Patriarcado. Papava logo uma dose pesada, um Murnau, um Dreyer, um qualquer expressionista alemão, com sorte saía-me um Fassbinder. Depois descia as escadinhas do Lavra e vinha cá a baixo ao Palácio Foz aviar um ciclo da cinemateca. Aí conseguia habitualmente melhor cinema. Foi lá que apanhei todos os Bergman. Senti-me possuído pelo Personna e pelo Silêncio. Quando jogávamos à bola, no “enconansus corner”, o pessoal costumava dizer que eu só gostava de “cinéma problème”, enfatizando a expressão, com intenção pejorativa, na adequada “prononciation française”. O pessoal falava francês nessa altura. Mas era o sueco da Liv Ulman que me deixava sem fala.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Depois subia no elevador da Glória para o Bairro Alto e ia para as aulas do Conservatório, na Barroca. Tive que anunciar aos meus pais que tinha desistido de medicina e ia agora estudar cinema. Não foi fácil fundamentar tal ruptura. Mas eu tinha os melhores pais do mundo e consegui distraí-los com a questão da orografia.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">- Mas, filho, tu tinhas dito que querias ser médico psiquiatra, depois de teres visto o Family Life do Keneth Loach, que tanto te tocou... e nós estávamos preparados para te apoiar em tudo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">- Sim, mas... aliás, eu deveria ter-vos dito que queria ser “anti-psiquiatra”, porque é isso que advém do Family Life e das ideias do Cooper e do Ronald Laing.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">- Bem, filho, conta connosco no que precisares. Tu és o nosso único filho. Tu és o nosso amor.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O pretexto da orografia colhia sempre. Assentava no mito romântico-urbanístico da “Lisboa das sete colinas” - do alto do Campo de Santana eu tinha descido ao vale dos Restauradores e subido ao Bairro Alto; duas colinas já estavam superadas e tinha assim criado uma necessidade, uma fatalidade de movimento.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em Alvalade o Loja Neves continuava na Alga a fazer rabiscos num caderno sebento onde guardava pensamentos afrancesados, mais uma Seara Nova e um Tempo e o Modo debaixo do sovaco. Continuava a fumar português suave sem filtro e queria trazer o Joris Ivens a Portugal.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu andava “apanhado” pelo documentarismo britânico. O Grierson e sobretudo o Alberto Cavalcanti com a história do “se quiseres fazer um filme sobre os correios, não faças um filme sobre os correios, faz antes um filme sobre o percurso de uma carta”.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Decidi fazer a adaptação cinematográfica do Sredni Vashtar. Andei uns dias naquilo. Depois de feita guardei na gaveta. Ainda aqui está, generosamente arquivada. Hoje, o que mais admiro no opúsculo é a marca deixada pela máquina de escrever Olivetti que já naquela altura batia com fita a duas cores, preto e vermelho.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Tinha nascido o vídeo. Na escola de cinema já tínhamos U-matic, três quartos de polegada. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">No Conservatório, o João Miguel Fernandes Jorge mostrava-nos diapositivos. Parava sempre no mesmo, num que tinha duas maçãs. Deixava que a sala tombasse num longo e incomodativo silêncio e quando sentia a agitação dos rabos nas carteiras, avançava para o slide seguinte, fazendo um comentário lacónico “este é o caso mais exacerbadamente romântico de que há memória”. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O António Reis, o do Trás-os-Montes, chorava e batia-nos nas mãos quando, à moviola, não acertávamos nos raccords de luz. O Ricardo Pais obrigava-nos a tocarmo-nos, para vencer as barreiras territoriais e tácteis do corpo, para que pudéssemos compreender que a dramatização trespassa desde o infinito distante até à pele. O APV, o Geada, tantos outros… O ambiente ecléctico de escola de artes, a cumplicidade entre alunos de cinema, música, teatro, dança, educação pela arte. Tudo veio a ser copiado mais tarde na série Fame. Fomos nós na rua da Barroca que inventámos esse engenho. E éramos muitos. O Pedro Costa, dos Ossos, por exemplo, também lá estava. Será que se lembra?</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por falar em Costa… um dia troquei de horário com o outro Costa, o da RTP. Mandei-o para casa e fiquei a trabalhar por ele à noite. Não me esqueço, foi no 7 de Março de 1980. Às oito da noite começava o Telejornal e eu tinha que cumprir o que estava determinado no alinhamento da emissão: “abrir a fase do burst”. Rodei o botão negro e serrilhado, pressionando com o polegar direito. O botão cedeu 45 graus, ajustou-se à nova posição, onde ainda repousa, se existir. Tinha assim começado a televisão a cores em Portugal, no meu dedo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bem, tinha começado antes. Nós abríamos o burst durante segundos, às escondidas, e voltávamos a fechar. Fazíamo-lo a horas combinadas para impressionar as namoradas em casa. Era a nossa leitura de “período experimental”. Combinávamos tudo, ligando da cabine telefónica do pátio, por cima da “estalagem do cavalo branco”. Ainda não havia telemóveis.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Aliás, a cor tinha começado ainda antes. Quando toda a gente foi à Pollux comprar os filtros de gelatina que davam cor aos televisores a preto e branco. Era um gradiente de azul, amarelo e verde, que atravessava de alto a baixo o vidro do cinescópio. Prendia-se com fita cola. Funcionava lindamente nas imagens de paisagens e nas séries do Bonanza e do fugitivo, mas tornava-se incomodativo em cima da cara da Maria Elisa e do Raúl Durão, coitado, que já não está connosco.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "calibri"; font-size: 12pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Isto foi em 1980. O mundo não pára. É uma vertigem.</span></div>
<span id="docs-internal-guid-96d99dc8-10a8-aca5-9277-f2a3229c4483"><span style="font-family: "calibri"; font-size: 12pt; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Eu nunca deixaria de ir ao cinema e nesse ano os meus filmes de culto foram, se a memória não me atraiçoa, o Apocalipse Now, o Homem Elefante e os Blues Brothers.</span></span><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-8293140044038556972013-02-22T03:26:00.000+00:002013-02-26T04:08:39.498+00:00Some of my photos #1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="p1" style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">Copyright and registered content</span></div>
<div class="p1" style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">Photos may be used unless for commercial use</span></div>
<div class="p1" style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">Please quote the author</span></div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkIrk0PPW4BwRTzTBokeKmIgfYf4sFKeJyY8syoLsK7IBJEeKccSkj3stK8_q67jSgvjIUN9WiSmztOcIjWzlqyVyPHxkLCqQhIb6zn9FjumA387M7JCm1CO8ysSVMNQdepa2c/s1600/2013_Fev19_moinhos_ArvoreDoente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkIrk0PPW4BwRTzTBokeKmIgfYf4sFKeJyY8syoLsK7IBJEeKccSkj3stK8_q67jSgvjIUN9WiSmztOcIjWzlqyVyPHxkLCqQhIb6zn9FjumA387M7JCm1CO8ysSVMNQdepa2c/s400/2013_Fev19_moinhos_ArvoreDoente.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Heal a tree</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Jardim dos moinhos de Santana (Santana Mills Public Garden), Restelo, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR5-TVeKHWnY2UnyA_pqJExt91oKbM5oWYfnTVDXhPpMV0YUcFLiNGil1mDk-7Xv1BQv4f5NgxuforrbtsRtwZm-bEr8MX0OhH70nk2BF4VA-MxfmPi7V7YHgRNtSd9k8s9CX-/s1600/pchile2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR5-TVeKHWnY2UnyA_pqJExt91oKbM5oWYfnTVDXhPpMV0YUcFLiNGil1mDk-7Xv1BQv4f5NgxuforrbtsRtwZm-bEr8MX0OhH70nk2BF4VA-MxfmPi7V7YHgRNtSd9k8s9CX-/s400/pchile2.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Look at the green umbrella</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">City detail at Praça do Chile, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">January 2013</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjedun5StzDsRIgUD7d4U9E20byqv1oQb_ZHdsreNlATtiGc9wIKnDsi6jdFF0lW8P4utwVam7TA3CG424R7SofOnV1s70JWqMS_kFIUSEU4ewZw6mpVxR8gkzCpuXHHIET1kjV/s1600/2013_Fev11_BecoChaoSalgado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjedun5StzDsRIgUD7d4U9E20byqv1oQb_ZHdsreNlATtiGc9wIKnDsi6jdFF0lW8P4utwVam7TA3CG424R7SofOnV1s70JWqMS_kFIUSEU4ewZw6mpVxR8gkzCpuXHHIET1kjV/s400/2013_Fev11_BecoChaoSalgado.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Punishment</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">City detail at Beco do Chão Salgado, Belém, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
__________________________________________________________________<br />
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwMFd5872hhWxOxl1RBy1_cKIeNlBl9SoGXVXFuwux6gEq8xqrWupj0TYcN6VxpNZvErD-rF7S3xkDCnFjmifwWjYX41nq0SpoUdvtrB5nsnvQwiytOQjabAYqwFEHBZJLPtR9/s1600/2013_Fev02_unknown.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwMFd5872hhWxOxl1RBy1_cKIeNlBl9SoGXVXFuwux6gEq8xqrWupj0TYcN6VxpNZvErD-rF7S3xkDCnFjmifwWjYX41nq0SpoUdvtrB5nsnvQwiytOQjabAYqwFEHBZJLPtR9/s400/2013_Fev02_unknown.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>The dark unknown</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Champalimaud Centre for the Unknown (northern view), Belém, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">January 2013</span><br />
__________________________________________________________________<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIgCD4VaqnZfRTWiP8k36l_k7NRPd5O4CAF44hL8TVocnTk7MKGyzYIb-1YQGMvy0gccN6XhdfLMH8XsAxqNb9m-EzqsmbfGGktjSE-uOBWnkobiQMPqypdiqJhYn8eANxXWhN/s1600/CCU_Jan2013_retocada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIgCD4VaqnZfRTWiP8k36l_k7NRPd5O4CAF44hL8TVocnTk7MKGyzYIb-1YQGMvy0gccN6XhdfLMH8XsAxqNb9m-EzqsmbfGGktjSE-uOBWnkobiQMPqypdiqJhYn8eANxXWhN/s400/CCU_Jan2013_retocada.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Eye on the future</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Champalimaud Centre for the Unknown (building detail), Belém, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">January 2013</span><br />
__________________________________________________________________<br />
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Srm5y4x5lQy9TiYCZurA1VRnPc6rQ0Cho00LRfv0UVjBwquIBjvTdo3mLIaUfDJ5u6P3ZT1eD62_IJZjRVD7cglOn4kjLOzLpQscsUyBjUGyLgttCDIYb3LMRXTev9fOtspJ/s1600/2013_Fev19_moinhosSantana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1Srm5y4x5lQy9TiYCZurA1VRnPc6rQ0Cho00LRfv0UVjBwquIBjvTdo3mLIaUfDJ5u6P3ZT1eD62_IJZjRVD7cglOn4kjLOzLpQscsUyBjUGyLgttCDIYb3LMRXTev9fOtspJ/s400/2013_Fev19_moinhosSantana.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Sancho is coming home</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Jardim dos moinhos de Santana (Santana Mills Public Garden), Restelo, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
__________________________________________________________________<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht7Lp7jc84tMCn-mTrJeDhN1IVnAgSgBvw6hAG-YCql6841WcpuG4OirnAFv2gfMxZi7uU6UmC9_QeoNLdndwTDkXTofh7wICTb826DGVqnnmH39PhKKBHWU3t1UHp8Rmv2zn7/s1600/2013_Fev02_porSol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht7Lp7jc84tMCn-mTrJeDhN1IVnAgSgBvw6hAG-YCql6841WcpuG4OirnAFv2gfMxZi7uU6UmC9_QeoNLdndwTDkXTofh7wICTb826DGVqnnmH39PhKKBHWU3t1UHp8Rmv2zn7/s400/2013_Fev02_porSol.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Zona de conforto</b>" (<b>confort zone</b>)</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Belém, Tejo, (river Tagus), Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6snvfrYXJN9PJCDfGRsciHMKL3rRvO4LfhKeFae1mOhmh0dP9AKa8z8eo-2kn4Q2uLBg1jM3Agjue94QZ21q5qN_oo9-Sg1DBHb4LBwzleC6PpKVOqUm23zV-tHamlhgSudRD/s1600/2013_Jan_relojoeiros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6snvfrYXJN9PJCDfGRsciHMKL3rRvO4LfhKeFae1mOhmh0dP9AKa8z8eo-2kn4Q2uLBg1jM3Agjue94QZ21q5qN_oo9-Sg1DBHb4LBwzleC6PpKVOqUm23zV-tHamlhgSudRD/s400/2013_Jan_relojoeiros.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>The watchmakers</b>"</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">Lisbon city detail (avenidas novas), Portugal</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">January 2013</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiHGlFOKLyWYmuJ0-QCVihTPvRC64o06FswM6f0KbVDv3-EACLQrazHQUYjqS7qlYPIDnPbLpGHLCioZhPYRdy-b0EekkpPfvJ-fOV0d0KlHISLujFxQMRbWXJpWIc2M6VuPiw/s1600/2013_Fev11_Jero%25CC%2581nimos_AlaOcidental.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiHGlFOKLyWYmuJ0-QCVihTPvRC64o06FswM6f0KbVDv3-EACLQrazHQUYjqS7qlYPIDnPbLpGHLCioZhPYRdy-b0EekkpPfvJ-fOV0d0KlHISLujFxQMRbWXJpWIc2M6VuPiw/s400/2013_Fev11_Jero%25CC%2581nimos_AlaOcidental.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Mosteiro dos Jerónimos, ala poente; Jeronimos Monastery, western view</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNvDZ33fCH9SA546LH8GpqNHAdw9Zych76gxB5ePjSWJCX3Ubvj8DkS7naqkERJtq9bYa8q-sqLt54nnvQGZjJsw5HHQvDPgc_asZDGyGj39Pl0mQxS9bBX3lh0sCVaAfB8VRi/s1600/AsMaosSujas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNvDZ33fCH9SA546LH8GpqNHAdw9Zych76gxB5ePjSWJCX3Ubvj8DkS7naqkERJtq9bYa8q-sqLt54nnvQGZjJsw5HHQvDPgc_asZDGyGj39Pl0mQxS9bBX3lh0sCVaAfB8VRi/s400/AsMaosSujas.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Les Mains Sales</b>", home detail</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">January 2013</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikigUzYHXshhfLEceYesdx_eV4_o_jTVrnnXOOSnqechrytfqFxkYW0E5nMIvzU2jRPM1EyhxSpvZIU0xiL5CWTDvcGzfIcDT0m_odNEpymevcyHlu-dj7cVbQVsAE_iwpZ_tg/s1600/CCU_Jan2013_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikigUzYHXshhfLEceYesdx_eV4_o_jTVrnnXOOSnqechrytfqFxkYW0E5nMIvzU2jRPM1EyhxSpvZIU0xiL5CWTDvcGzfIcDT0m_odNEpymevcyHlu-dj7cVbQVsAE_iwpZ_tg/s400/CCU_Jan2013_2.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><b>"Olive on concrete"</b></span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">Champalimaud Centre for the Unknown (building detail), Belém, Lisbon, Portugal</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span><br />
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">___________________________________________________________________________</span><br />
<br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyfayPXBpWBxzm3TeZGFiB7nFMPd8_RLpEoIktBb0i8b21dhDScyHRlpVI8jRn68vPTzLdVD4NYwuQXB9OjopS4GgnkzAr-jt2boDZ009GBA9_Epm7e-WIRxtFhCz3wAfG1o3A/s1600/Graffiti_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyfayPXBpWBxzm3TeZGFiB7nFMPd8_RLpEoIktBb0i8b21dhDScyHRlpVI8jRn68vPTzLdVD4NYwuQXB9OjopS4GgnkzAr-jt2boDZ009GBA9_Epm7e-WIRxtFhCz3wAfG1o3A/s400/Graffiti_1.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">"<b>Retrieving</b>", Lisbon graffiti</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">February 2013</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">____________________________________________________________________________</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: start;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: start;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
<h2 class="sidebar-title" style="display:none;">Twitter Updates</h2>
<ul id="twitter_update_list"></ul>
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-82475302551756315582012-11-06T13:17:00.001+00:002012-11-06T13:22:52.178+00:00Lojas FNAC<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQizXNtenzFPFy0M6khbl60YiqeNjrIJN24dbw5WZX-TicsluJ4fz6M2dZYnd6dY1Ay6COvUBJcsrp4aHQm1IdfUeUV3OLXH_je8UZl8TECxTeyJLRln3toVS23XKMgIs6iXPM/s1600/bookshop.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQizXNtenzFPFy0M6khbl60YiqeNjrIJN24dbw5WZX-TicsluJ4fz6M2dZYnd6dY1Ay6COvUBJcsrp4aHQm1IdfUeUV3OLXH_je8UZl8TECxTeyJLRln3toVS23XKMgIs6iXPM/s400/bookshop.jpeg" width="400" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Lembro-me de as lojas FNAC serem uma bebedeira de livros.</span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">“Bebedeira”, ainda que usado como adjectivo, pode soar deselegante... por isso a marca FNAC repensou o negócio. Foi evoluindo, digamos, “refundando” o conceito.</span></div>
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;"></span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">Agora, as FNAC viraram qualquer coisa como “lojas de porcelana do sec. XXI”. Nomeie-se um autor, preferencialmente um autor pouco literato mas famoso, idealmente um não autor mas famosíssimo, e veremos que ele lá está, na FNAC, na versão para iPad, Android, DVD, Blu-ray, capa para iPhone, plasticina, autocolante e boneco de silicone articulado.</span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px;">
</span><span style="font-size: 13px; line-height: 17px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas se o quiserem mesmo em livro, vão ter que esperar que um funcionário gótico, de piercings faciais e blusão porta-crachás, vos atenda, e após sessão autista de consulta ao sistema informático, vos diga que a prateleira dos livros é lá bem ao fundo, logo a seguir à secção das Moleskine.</span></div>
</span><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
<h2 class="sidebar-title" style="display:none;">Twitter Updates</h2>
<ul id="twitter_update_list"></ul>
<a href="http://twitter.com/joaosalvado" id="twitter-link" style="display:block;text-align:right;">follow me on Twitter</a>
</div>
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-1511523478941028892012-10-18T12:19:00.000+01:002012-10-18T12:22:40.559+01:00Visita de Estado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuwNaU49sNFIAPXvVlcX7zcI6F_HBLLT-m4BvpnCzYyeY-UF5XlG7WTMhx0-a9sYw-Qay-R5BvgDhsah1rPIH-8hY9l8GaAbi2SKO1Cn_m8uVHRMfXxlt20QblLpefqkaPiFFS/s1600/protocolar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuwNaU49sNFIAPXvVlcX7zcI6F_HBLLT-m4BvpnCzYyeY-UF5XlG7WTMhx0-a9sYw-Qay-R5BvgDhsah1rPIH-8hY9l8GaAbi2SKO1Cn_m8uVHRMfXxlt20QblLpefqkaPiFFS/s400/protocolar.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A foto parece antiga, mas não. É futurista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Foi tirada aquando da terceira visita da chanceler Merkel
aos Territórios do Sul do Império. Mais exactamente numa zona chamada
Portugal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">- “Veja como está tudo dizimado, Chanceler. Tal como nos
tinha recomendado. Observe a vastidão do território libertado. Só restamos nós,
governo, e um banco, literalmente.”</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Diz o janota do meio, um tal “passos
coelho”, acotovelando contra a parede um acólito, o “portas”, que com o tempo
lhe mereceu estatuto de insignificante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O “portas” refugiava-se naquele tique estranho que tinha
adquirido no Reich anterior: quando se sentia pouco à vontade, olhava em
frente, para evitar ser notado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mais à direita, o quinto, era o “relvas” que olhava sempre a
obra realizada, de queixo emproado. Tudo para ele era honoris causa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O último, o pequenino da direita, era o “gaspar”.
Aparentemente reservado nas apresentações protocolares, era exigente numa coisa:
queria sempre ser visto o mais próximo possível da Fuhrer, sabia que era aí o
seu lugar.<o:p></o:p></span></div>
<!--EndFragment--><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
<h2 class="sidebar-title" style="display:none;">Twitter Updates</h2>
<ul id="twitter_update_list"></ul>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8T8QrFbc5yWvV0YrEQku56BcsV9dEnphoY5TxQay1xmrrDFWVK6-6FI7J1GX1Wfkppbv2zFgUXjCH0aDw2NKPILYYAuK23EVtkpWpvJfFvShdBWkvH2jl0vnqTNKn_AUBqOs2/s1600/MeoHospital.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8T8QrFbc5yWvV0YrEQku56BcsV9dEnphoY5TxQay1xmrrDFWVK6-6FI7J1GX1Wfkppbv2zFgUXjCH0aDw2NKPILYYAuK23EVtkpWpvJfFvShdBWkvH2jl0vnqTNKn_AUBqOs2/s400/MeoHospital.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quem hoje entrar no edifício da consulta externa do hospital
S. Francisco Xavier, em Lisboa, não encontra um balcão de informações, não
encontra uma zona de acolhimento a idosos, não encontra um local onde se possa
obter, por aluguer ou empréstimo, uma cadeira de rodas. Não encontra sequer
informação sinalética apropriada que lhe indique como chegar ao parque de
estacionamento, ao hospital de dia ou à capela mortuária. Mas encontra, isso
sim, uma banca da PT/Meo que lhe explicará com prontidão que fibra óptica é
coisa que se está sempre a tempo de comprar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não será um pouco "fora da box"?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Se os hospitais começam a alugar espaço "público"
para serviço de vendas, ainda corro o risco de acordar da anestesia, já de caneta
na mão, para abrir uma conta Cristiano Ronaldo.</span><o:p></o:p></div>
<!--EndFragment--><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
<h2 class="sidebar-title" style="display:none;">Twitter Updates</h2>
<ul id="twitter_update_list"></ul>
<a href="http://twitter.com/joaosalvado" id="twitter-link" style="display:block;text-align:right;">follow me on Twitter</a>
</div>
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-90254725970492452822012-09-10T02:11:00.000+01:002012-09-10T02:11:42.631+01:00Leave Her to Heaven<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjouMPTSXXI4YmoREtmxSt_h5FUrgdw_gzp5f_C1P_36JKLbUaCGFacenupXWn46IYkSzX9U28pJuYW5ojcGJQ7e7k-4JBXYOlbggq-0z9bsqDBSG7H4EzD7rI33zpHCf2OtYf7/s1600/GeneT.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjouMPTSXXI4YmoREtmxSt_h5FUrgdw_gzp5f_C1P_36JKLbUaCGFacenupXWn46IYkSzX9U28pJuYW5ojcGJQ7e7k-4JBXYOlbggq-0z9bsqDBSG7H4EzD7rI33zpHCf2OtYf7/s400/GeneT.png" width="400" /></a></div>
<br />
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O que é o preço
da fama?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Será uma
apresentadora de televisão fugir do estúdio enroscada no porta-bagagens do meu
carro, para evitar o psicopata que a espreita no estacionamento e todos os dias
lhe entrega cartas de amor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Será o pivô do
jornal que recebe diariamente uma gravata de seda, vinda de admiradora anónima,
com indicações precisas do pandã para camisas e casacos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Já tenho visto
celebridades no <i>check out</i> do hotel, ser-lhes
recusado o pagamento da despesa porque “<i>o
privilégio da sua estadia foi inteiramente nosso!”</i> – isso não é também um
preço para a fama?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Já vi aldeias paradas
a aplaudir um carro que passa porque traz o emblema da SIC ou da TVI. Vi policias
desculparem-se por ter mandado parar famosos da televisão, que iam apenas bem
bebidos e em excesso de velocidade, <i>“siga
lá, e já agora um autografozinho para a minha filha, pode ser?</i>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Vi um matulão
fazer uma espera ao apresentador, porque não gostou da forma derretida como a
esposa, que segurava debaixo do braço, olhava para o entertainer durante o
espectáculo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há <i>paparazzi</i> a incomodar gente famosa, e há
gente famosa a telefonar ao <i>paparazzo </i>para
lhe dizer onde irá estar a certa hora.<i> </i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">“O preço da
fama” não passa de um jargãozito, valorizado para lá ou para cá, consoante a
conveniência e as circunstâncias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Por cá, o mundo
dos famosos é um agregado pouco numeroso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Tudo o que se
passa é mundano e o nosso “preço da fama”, seja para pagar seja para receber, nunca
ultrapassa uma mão cheia de moedas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Assistimos, por
vezes, a um ou outro episódio despoético, mas nada que perturbe a a nossa
capacidade de acomodação da realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Fazemos as
coisas assim, pequenas, talvez felizmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas sobre “o
preço da fama” há uma história que sempre me impressionou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Vem da terra
onde se fabricam sonhos e se constrói a ficção, mas é dolorosa, por ser sórdida
e verdadeira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Lembrei-a este
fim de semana ao revisitar uns clássicos do cinema: “Heaven Can Wait”, de Ernst
Lubitsch; “Leave her to Heaven” (Amar foi a minha perdição), de John Stahl; e “Laura”,
de Otto Preminger.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">As três obras são
atravessadas pela presença da actriz Gene Tierney.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E é no filme da
sua vida privada, não na tela, que esta história acontece.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Gene era dotada
de uma beleza deslumbrante. Diz-se que o seu primeiro desempenho teatral
consistiu, tão só, em atravessar o palco com um balde de água na mão. Poderia ter
envelhecido condenada a papéis de figuração, mas não. Logo nesse dia um crítico
perspicaz se apressou a escrever na resenha: “<i>é a mais bela carregadora de baldes que alguma vez vi na vida!</i>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Daí até a Twentieth Century-Fox se aperceber do potencial daquela
figura, da sua força expressiva e dramática, foi um passo. Acresce que o verde
luminoso dos olhos de Gene assentava que nem uma luva nas novas nuances tonais
que a anunciada paleta “technicolor” permitia explorar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Trabalhada por mãos profissionais como Lubitsch e Preminger – e antes
disso, pelos braços não menos profissionais de John F. Kennedy – Gene Tierney
arrematou tudo: beleza natural, expessão dramática, glamour, trabalho,
influência social e talento – a star was born!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A parte menos original é que, a par da fama e do sucesso, corria um
lado privado turbulento e pouco feliz na vida da actriz. Instabilidade
emocional, azar aos amores... e outras coisas que ainda estavam para vir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em 1943, já assoberbada de problemas, Gene cumpriu uma incontornável obrigação
social, visitou a Hollywood Canteen. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A Hollywood Canteen, era um armazém transformado em salão de
espectáculos, de dança e restaurante.
Funcionava como instituição de motivação e honra para os heróis militares
destacados para a guerra. Uma iniciativa patriótica impulsionada por Bette
Davis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Na Hollywood Canteen, entrava-se, comia-se, bebia-se, dançava-se, socializava-se...
tudo sem pagar – a farda era o único bilhete de entrada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Homens e mulheres ligados às forças armadas ou à máquina do Estado que
a alimentava, tinham divertimento garantido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Para tornar a ideia ainda mais brilhante, a Hollywood Canteen
funcionava com empregados muito especiais. A gente famosa de Hollywood garantia
todos os serviços, em voluntariado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Actores, actizes, músicos, cantores, bailarinas, produtores,
realizadores, técnicos, criativos, enfim, artistas e famosos... todos por lá
passavam para homenagear os que serviam a Pátria. Famosos aos magotes serviam à
mesa, lavavam a loiça, cozinhavam e limpavam as casas de banho (ou fingiam),
cantavam, dançavam, improvisavam espectáculos e galvanizavam a soldadesca em
torno do ideal patriótico – um lugar de epifania para quem daí a dias embarcava
para a guerra do Pacífico<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Era uma espécie de botequim em porto de abalada, mas com fins nobres,
respeitáveis e patrióticos. Um soldado motivado é meia guerra vencida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em menos de um ano um milhão de soldados, tinham passado pela
“cantina”, convencidos que não se morre nas ilhas Marianas nem nas Salomão carregando
na mochila um beijo e um autógrafo de Lucille Ball ou de Mary Pickford.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas não eram só essas que serviam à mesa. Também lá iam Abbott &
Costello, Fred Astair, Louis Armstrong, Cecil B DeMille, Lauren Bacall, Frank
Sinatra, Count Basie, Shirley Temple, Robert Mitchum, Marlene Dietrich, Cole
Porter, Ava Gardner, Ginger Rogers, e tantos, tantos outros... Aliás, sabe-se,
iam lá todos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Todos passaram pela Hollywood Canteen, selando a obrigação patriótica
e, já agora, colhendo o reconhecimento público por o terem feito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Foi num cenário difícil, deprimida pelo insucesso no amor, exausta
pela rodagem de “O Céu Pode Esperar”, e já numa gravidez muito avançada, que
Gene Tierney cumpriu a obrigação solidária de passar, também ela, por Hollywood
Canteen.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em finais de 1943, a “cantina” recebeu a visita da <i>“mulher mais bonita da história do cinema</i>”
como lhe chamava Darryl Zanuck, fundador da Twentieth Century-Fox. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Uma visita fugaz, apenas uma, porque Gene não estava em condições de
festança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas mesmo assim tudo havia ainda de piorar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.4pt; margin-bottom: 1.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Após a visita, Gene adoeceu com rubéola. E em consequência da doença,
a bebé Daria, a sua primeira filha, nasceu cega, surda e deficiente profunda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Por razões que
não colhem nesta narrativa, a Hollywood Canteen fechou as portas uns anos mais
tarde. Já tinha feito felizes por uma noite, 3 milhões de soldados aliados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Os problemas da
filha, o desgosto de uma vida carregada de dor e insucesso afectivo,
contrastando com a imagem pública que alimentava, devastavam Gene Tierney.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas a amargura de
Gene dilacerou, quando anos mais tarde uma fã confessa se aproximou e lhe
contou uma história: admirava-a de tal forma, que naquela noite, na Hollywood
Canteen, não pode deixar de a ir ver. Toda a gente dizia que Gene era ainda mais
bonita ao vivo que na tela. A vontade de a ver era tão forte que decidiu
desrespeitar as indicações de isolamento e quarenta a que estava clinicamente
obrigada, por ter rubéola, para a poder ver e beijar em carne osso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Gene, recebeu a
informação mortificada. E num doloroso silêncio, afastou-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Nunca haveria de comentar
este episódio, em público, mas deixou uma referência no seu livro de memórias:
“<b><i>A
partir dessa data tornei-me totalmente insensível a qualquer comentário
elogioso!</i></b>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Daria Cassini,
assim se chamava a filha deficiente de Gene, sobreviveu à mãe. Viveu até aos 66
anos. Muito provavelmente graças à assistência e aos cuidados médicos
generosamente garantidos em testamento, por Howard Hughes, amigo solidário de
Gene.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Daria faleceu,
faz agora dois anos, simbolicamente a 11 de Setembro de 2010.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Leave her to
Heaven.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Lisboa, 10 Setembro 2012</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">JS</span></div>
<!--EndFragment--><div class="blogger-post-footer"><div id="twitter_div">
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-30941489056703890242012-09-01T14:41:00.001+01:002012-09-01T14:43:07.802+01:00Em casa de ferreiro...?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSL0W1JhQBYJdpTxUQGAH6eEU-NIpuGTs4jE2CqrSBuvaws5MFv6iI280YFwGh3VeeUaKBGuORhNUqEAszCVEUgW3N2pQymzVf7lRAYoGyBmwvuTmziW5kbzx1FyWv1V51taXg/s1600/shooting+the+MGM+logo_1924.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="277" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSL0W1JhQBYJdpTxUQGAH6eEU-NIpuGTs4jE2CqrSBuvaws5MFv6iI280YFwGh3VeeUaKBGuORhNUqEAszCVEUgW3N2pQymzVf7lRAYoGyBmwvuTmziW5kbzx1FyWv1V51taXg/s400/shooting+the+MGM+logo_1924.jpeg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;">shooting the MGM logo, 1924</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há na RTP bons profissionais da imagem, do som, da edição, do
guião, do texto e da narrativa, da realização, da ilustração gráfica, da
reportagem e do jornalismo, da produção, etc., etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Tantos!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Serão centenas, milhares?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">São criativos, habituados a trabalhar histórias e enredos, reais
ou ficcionados, em que os protagonistas são sempre os outros – nós, o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Desta vez, o coração desta família profissional, palpita
incomodado com o que se passa dentro de sua casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há tanta coisa para contar, para perguntar, para explicar...
e há sobretudo a vontade de exercer o direito inalienável de debater a verdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas pouco tenho visto por aí feito com o seu trabalho o seu
saber.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Encontram-se uns blogs, uns posts, uns comentários de
facebook, uns links, uns artigos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É pouco, para as ferramentas poderosas que esta família domina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não falo dos meios da RTP, claro; nem dos conteúdos, nem das
antenas. Não há apelos insurrectos nesta ideia. São gente com princípios éticos
bem claros, não manipulam em causa própria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mas têm em casa as ferramentas e o saber: os telemóveis, as câmaras
amadoras; têm os portáteis que fazem edição e grafismo; dominam as técnicas e
têm o conhecimento das linguagens e das narrativas... Detêm, como todos, o
acesso às plataformas digitais onde a opinião ainda vai circulando democrática
e universal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Que outra família profissional poderia gabar-se desta
agilidade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estranho, não os ter visto por aí.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Se um viral, um flash mob, vlog, uma animação gráfica, um
stop-motion, um stand-up, podem fazer milagres para alavancar uma ideia
comercial, um produto de consumo, um serviço... Porque não fazê-lo, com
criatividade e objectividade, para alavancar uma razão, um argumento válido
esquecido ou filtrado pela comunicação <i>mainstream,</i>
que eles também fazem, por obrigação de ofício?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não é agitação panfletária, nem subversiva, nem
cinema-guerrilha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Um viral é um viral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E um viral pode ter mais verdade informativa e mais visibilidade
que uma entrevista em prime time.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estou com eles. Espero vê-los mais por aí.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">JS</span></div>
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<h2 class="sidebar-title" style="display:none;">Twitter Updates</h2>
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<script type="text/javascript" src="http://twitter.com/statuses/user_timeline/joaosalvado.json?callback=twitterCallback2&count=5"></script></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7674375.post-31402229585596226072012-08-31T04:05:00.000+01:002012-08-31T04:16:22.478+01:00Concessionar a consciência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja4W73372lwFOhcfq3VVnIkTZ2CoEwjB_OwZ8Y3fapMT7tluOSc36GdbC1DkOPPvMN76w1K3ukpEt9wmz7FGJDwo1x8rjhG7kkaUagvXBaM46g8qPIqQT2WOU4L6MtFqWTZo7o/s1600/Petar+Meseldz%CC%8Cija.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja4W73372lwFOhcfq3VVnIkTZ2CoEwjB_OwZ8Y3fapMT7tluOSc36GdbC1DkOPPvMN76w1K3ukpEt9wmz7FGJDwo1x8rjhG7kkaUagvXBaM46g8qPIqQT2WOU4L6MtFqWTZo7o/s400/Petar+Meseldz%CC%8Cija.jpeg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small; line-height: 1.3em;">Petar Meseldžija - Giants and the Bullfight</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small; line-height: 1.3em;"><br /></span></div>
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</div>
<div class="p1" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Numa altura em que a RTP tanto precisa do carinho público, e o público tanto precisa de uma RTP distinta, logo aparece a costela marialva da televisão e espeta um ferro curto nessa relação de confiança.</span></div>
<br />
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