"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Dela, gosto especialmente das referências que faz a quando era bem miudinha e escrevia poesia breve! Sobre nuvens, sol e galinhas que não viam o brilho do astro rei por se terem distraído...
Quanto ao querer ou não alterar as coisas com as palavras que se escrevem... uhm... cá p'ra mim quer-se sempre ("quer-se" é estranho, não? talvez devesse escrever "deseja-se" mas... oh, quer-se também é bem!) E julgo se quer sempre porque acredito nisto, - A palavra é acção política!!
O cenário é o consultório médico de um hospital público, teatralmente reproduzido. Em jeito de didascália, adianto que nada me move contra o serviço público de saúde; pelo contrário, admiro-o e gabo-lhe a temeridade de ir conseguindo resistir às adversidades. Regressando ao espaço cénico da minha consulta externa. Depois de substancial tempo de espera - faz parte! - sou chamado ao gabinete. Entro, “bom dia, dá-me licença?”, “faça favor de se sentar!” e aponta com a esferográfica para a cadeira em frente, levantando o olhar pouco acima dos meus joelhos. Sento-me. Acomodo-me, sabendo que vou ser recebido mais como um vulto que traz um episódio clínico, que uma criatura que merece simpatia e atenção. Conheço bem o burlesco dos minutos que se seguem. Olho demoradamente a médica à minha frente, sei que tenho tempo para me divertir, para confabular pormenores, antes que ela me dirija um primeiro olhar e atenção humanizada. Parece-me uma mulher sombria e velha. Veste-se como uma velha...
A notícia da morte de Bénard da Costa chegou-me via twitter. A informação relevante ou de última hora chega-me habitualmente online. Prefiro o acesso online à comunicação porque é mais eficaz – mais rápido, mais completo, mais simples. E pode ser gerido por mim. Gradualmente, sem me aperceber, vou alterando os hábitos de consumo, e os culturais. Por isso compro menos jornais e raramente vejo televisão. A notícia da morte de Bénard da Costa chocou-me, deixou-me triste. Era um chato, às vezes, mas eu gostava dele, respeitava-o intelectualmente. Eu sei que não é o elogio fúnebre apropriado mas tenho que o dizer: eu via o Bénard como o óleo de fígado de bacalhau, muito bom, enriquecedor, mas um pouquinho intragável. Aprendi muito com ele, desde cedo... lembro-me do Tempo e o Modo. O que eu não imaginava é que também haveria de aprender com ele no acto da sua retirada de cena. Quando, pelo twitter, tomei conhecimento do falecimento, tive também a consciência de que já pouco me serviam os ca...
O que se passou, o que esteve à volta da interrupção da peça do São Luiz na passada quinta-feira, pode ter sido uma questão bem mais complicada, ou talvez bem mais simples. A acção da atriz-prostituta-transexual (assim se definiu) keyla Brasil, não foi um acto isolado, teve participação e conivência de uma boa parte da plateia, que estava lá para isso. No vídeo que tem circulado nas redes sociais pode ver-se: a filmagem começa no momento em que Keyla, semi-nua, se levanta da cadeira. Uma câmara (telemóvel) de alguém sentado numa das filas dianteiras da plateia, aponta para trás, para captar o arranque, a descida da mulher ao longo da coxia central, gritando para o actor em cena "Transfake! Desça do palco, tenha respeito!” O vídeo, na versão editada, é composto por 3 câmaras, três ângulos de enquadramento apontados à interveniente: a partir da plateia, lado esquerdo; da plateia, lado direito; e do balcão central. Num registo amador e informal, a “cobertura” do acontecimento denota ...
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Quanto ao querer ou não alterar as coisas com as palavras que se escrevem... uhm... cá p'ra mim quer-se sempre ("quer-se" é estranho, não? talvez devesse escrever "deseja-se" mas... oh, quer-se também é bem!) E julgo se quer sempre porque acredito nisto, - A palavra é acção política!!