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A mostrar mensagens de abril, 2009

Contar histórias - Bora lá - I

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Há dias cruzei-me no ciber-espaço com um amigo, um ex-colega, que não reconheci. No momento não lhe vi a cara e não tivesse ele acenado uma salvação este texto nunca existiria. Não que o ciber-espaço seja uma viela sombria mas apenas porque o amigo me apareceu sob a forma de texto, sem assinatura visível, e eu, desabituado a passar por aquelas esquinas literárias, não percebi quem era. O ciber-espaço tem destas coisas. Feitos os cumprimentos lá celebrámos o ciber-encontro, resumido neste diálogo imaginário. - Bons tempos... e tantas histórias para contar. Fulano e sicrano, que saudades! - É verdade, quantas histórias! - Então “bora lá” contar essas histórias – Desafiou-me o Paulo O Paulo, assim se chama o amigo e colega, anda por aí. Dá aulas, não sei bem o que faz desde que saiu da SIC. Nunca fomos muito chegados no trabalho, mas sempre apreciei a forma exuberante como ele expressava um humor caustico e pulsante. Nunca lho terei dito ou demonstrado, mas gostava dele. A melhor memória

Bairrão & Balsemão Lda

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29 de Abril de 2009, dia 1 da televisão digital em Portugal – comprei pipocas. Sentei-me em frente ao plasma, sala na penumbra, na expectativa de que uma emoção digital me fizesse sentir a novidade tecnológica. Fiz zaping, refiz sintonias, varri frequências, explorei menus, sempre na esperança de que a minha relação com o digital fosse além das dedadas melosas no painel do plasma e do besuntado de açucar das pipocas no comando do televisor... mas nada. Nem canais, nem emissões, nem dolbys e widescreens, nem sequer sinais teste. Esgotada a coca (cola), as pipocas e a paciência, a única sensação digital do dia chegou-me às 19:25, com a leitura online do Diário Económico “ Ao Diário Económico, Bernardo Bairrão, administrador delegado da Media Capital, e Francisco Maria Balsemão, vice-presidente da Impresa, defenderam que o Governo deveria optar por dar aos actuais canais generalistas (RTP1, SIC e TVI) a possibilidade de lançarem cada um canal em alta definição. Estes seriam emitidos no es

Venham os gentornalistas que Abril não está fácil

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Última semana de Abril, primeiros dias de Maio, jornada habitualmente marcada por outro tipo de agenda – a evocação das datas que celebram o ADN da nossa democracia. Abril não esperava que estes dias viessem a ser marcados por um conjunto de acontecimentos relevantes na área da comunicação social, mas foi isso que aconteceu... para o bem ou para o mal. Vejamos: A TDT 29 de Abril de 2009. Início formal, mas desastroso, da televisão digital terrestre em Portugal. Um serviço tecnológico novo que começa vazio, sem conteúdos. As três televisões, a PT, o governo, a ANACOM, a ERC, vão enganar o país. Vão mentir-nos dizendo que tudo está a funcionar como previsto. O país, sem informação crítica e perante um tema demasiado técnico, vai acreditar. A TDT começa mal. Vejamos algumas verdades que nos serão omitidas: 1 - O calendário português de implementação da televisão digital põe o país na cauda da Europa. Fazemos mal e tarde. Estamos no grupo da retaguarda, com a Letónia, Chipre e a Roménia,

O Ground Zero da televisão digital

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Maio de 2009 marca o início da televisão digital terrestre (TDT) em Portugal. O início da disponibilidade tecnológica, mas não o início das emissões regulares. O governo determinou (e a PT assume cumprir) que no final de 2010 a cobertura da TDT no território nacional será de 100%. Dentro de ano e meio, sensivelmente, todo o país estará pronto a deitar fora mais de 50 anos de “velha” televisão. O que vai mudar de imediato na televisão em Portugal? O impacto da televisão digital nos lares portugueses nos próximos meses será mínimo, quase inexistente. Quem aderir à TDT recebendo o sinal de televisão por antena irá observar pequenas diferenças – mais definição na imagem e menos fantasmas, sobretudo se viver numa zona de má cobertura, apenas isso. Quem já recebe televisão por cabo não irá notar diferença nenhuma, literalmente. Não estaremos longe da verdade se dissermos que, para já, a TDT não representa mais que uma nova forma de a velha televisão nos chegar a casa. Haverá duas ou três f

O viral

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Susan Boyle é uma escocesa de 47 anos, desempregada, solteira, provinciana, feia, com sobrancelhas que nunca foram arranjadas, que confessou em palco nunca ter sido beijada por amor. Haverá pior forma de começar? Viral é o nome dado aos conteúdos (pequenos vídeos) disseminados de forma epidémica pelas novíssimas plataformas de comunicação: o mail , os blogs , os microblogs , os vlogs , os instant messengers , os telemóveis e outros. A divulgação é exponencial, em pirâmide, e faz de cada um de nós, simultâneamente, receptor (porque recebemos de alguém), emissor (porque enviamos para muita gente) e editor de conteúdos (porque seleccionamos o que enviamos e para quem enviamos, criando micro-comunidades na nossa lista de contactos). Há exactamente uma semana, no sábado passado, Susan Boyle enfrentou o júri e o auditório do Britain’s Got Talent (um equivalente britânico dos nossos Operação Triunfo ou Ídolos ) num daqueles castings demolidores de minuto e meio para “glória ou morte súbit

O que pequeno nasce, grande pode tornar-se

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Nos anos 90, John Polson, um actor/realizador trintão e meio encalhado nos negócios da produção cinematográfica resolveu juntar uns amigos e organizar um festival de cinema de curtas metragens. A “coisa” podia passar-se ali mesmo, no Tropicana Caffe, nos subúrbios de Sydney, na Austrália, onde se juntavam quase todos os dias para “tomar a bica”. O TropFest nasceu e a aventura correu bem. Muito bem, mesmo, ao ponto de, com os anos, ser acarinhado pelo público como um dos principais eventos culturais e artísticos da Austrália. Polson soube dinamizar o festival introduzindo novas categorias, mas mantendo sempre o foco no formato “curtas”. Mais três anos e o Tropfest, que do café Tropicana já só tinha a metade frontal do nome, subia por mérito, à classificação guiness de “o maior festival de curtas metragens do mundo”. Encheu de orgulho o país, mas Polson tratou de criar um desdobramento com uma versão complementar do certame a decorrer em Nova Iorque. O Tropfest vive agora, orgulhosament

A Ferramenta

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Todos os dias é utilizado por milhões de pessoas para alterar a realidade – transformá-la naquilo que os olhos querem ver. Para muita gente é um instrumento permanente de trabalho por isso lhe chamam ferramenta. Retocar, recriar, inventar, mudar, alterar, retirar, aumentar, renovar... é interminável a lista de verbos regulares que se podem ajustar aos pequenos gestos que fazem a rotina do utilizador de Photoshop . Nas mãos do fotógrafo, sonhador, refazem-se sombras, removem-se acnes e rugas e muitas jovens modelo, candidatas à perfeição, vêem a celulite sumir-se das suas fotos de portfolio . Nas mãos do gráfico, cismático, compõem-se colagens e fotomontagens, construindo narrativas que, apenas com palavras, não se poderiam contar. Nas mãos do publicista, finório, desenham-se bolhas de condensação, tentadoras, que nascem do seco das embalagens haurindo-nos a sede e o desejo. Nas mãos do director de campanha, demagogo, apagam-se detalhes indesejados do fácies cansado do político, retiram

Nos Bastidores dos Oscars

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Alguém disse sobre os oscar – “é um espectáculo para televisão, realizado num teatro, para celebrar o cinema”. Esta natureza híbrida do evento não ajuda a resolver os problemas de construção do espectáculo. A duração do formato (longa para tv), e algumas declarações de vitória, do estilo “tenho tanta gente a quem quero agradecer”, fazem tremer os organizadores que todos os anos tentam aplicar novas ideias para puxar o brilho ao evento que constitui um dos maiores rituais partilhados do nosso mundo global. Este ano o reconhecimento chegou – o espectáculo dos oscars foi um êxito. Nos preparativos da cerimónia ergueu-se um verdadeiro show à boa maneira de Hollywood. Os responsáveis... não faziam parte dos nomeados, mas acabaram todos por fazer parte dos vencedores. Os produtores do espectáculo, Bill Condon e Laurence Mark (foto 01). Bill Condon, 53 anos, é produtor, realizador e argumentista. Tinha subido ao palco dos oscars há 10 anos para receber o prémio pela adaptação para cinema do D

ETC, etc.

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Em Março de 2007, em Los Angeles, numa animada conferência internacional sobre “O Futuro da Televisão”, Bruce Rosenblum, Presidente da Warner Bros Television Group, surpreendeu o auditório apresentando este novo conceito – o ETC. “Quando me pediram para vir aqui falar sobre a televisão e o futuro, eu pensei: - Bem, é fácil. Tudo o que se passa resume-se em três pontos - as televisões generalistas, clássicas, confrontam-se com o decréscimo das audiências face ao desgaste da sua oferta de conteúdos; por outro lado, algumas estações privadas, mais ousadas, encontram rentabilidade na descoberta de novos conceitos comerciais, multi-plataforma, interpretando devidamente a revolução tecnológica e a mutação dos hábitos dos consumidores; por outro lado, ainda, os custos de produção continuam a aumentar (menos os dos conteúdos de má qualidade e garantido insucesso), mas a tecnologia faz surgir novas formas de receita que poderão mitigar os custos crescentes. Face a este cenário tripartido, eu vi

A Televisão do Futuro

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Vem aí a televisão digital terrestre e, com ela, o quinto canal de televisão generalista em Portugal. O que irá mudar com o aparecimento de uma nova televisão? Iremos beneficiar em qualidade e alternativas, ou será que cinco vai ser igual a quatro mais um? A cinco – por enquanto vamos chamar-lhe assim – será o primeiro canal generalista do Séc. XXI. E não adianta desvalorizar-lhe o significado. O quinto canal irá nascer 15 a 20 anos depois do seu irmão mais próximo, a TVI. Mas a revolução nas comunicações e as mudanças sociais das últimas décadas, representam, entre eles, um salto maior do que as quatro décadas que antecederam. Significa que o quinto canal nascerá “geracionalmente” mais afastado dos irmãos próximos, TVI e SIC, do que estes da primogénita RTP. Os 35 anos que separam o nascimento da RTP, da televisão privada, parecem, à distância, um instante de calmia – o que determina que, neste caso, 15 ou 20, seja maior do que 35. Fasquia alta para a nova televisão. Por isso assiste

Encontram-se e fazem as Pazes - I

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Basta estar atento, ver cinema e boas séries, e reparar – actualmente, muitas produções de televisão e cinema equivalem-se em apuramento formal e qualidade técnica. Já lá vão os tempos em que o trabalho técnico, operacional e criativo da televisão era visto por alguma gente do cinema como um resultado pouco cuidado, talvez um trabalho menor. “Televisão é fluxo” – terão ditado alguns – “logo, um trabalho sem rigor no detalhe”. Mas os tempos vieram diminuir-lhes razões. Muitos factores contribuíram para a mudança. A sociedade mudou e ambas as indústrias acertaram a agulha, corrigindo o paradigma. Nesta coluna iremos analisar alguns aspectos que têm conduzido à aproximação e reconciliação do cinema e da televisão. Comecemos por um de natureza técnica. Montagem: a lógica não linear. Sabe como alguns dos grandes nomes do guionismo escrevem as suas obras? Primeiro inventam-lhe um final forte; a seguir, um início inesperado e arrebatador; e só depois constroem o miolo interior, o corpo, aquil

O Disco Versátil

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Onde andará o VHS de três cabeças que lhe custou os olhos da cara já lá vão uns quinze anos? Provavelmente no lixo ou em algum sótão poeirento que aguarda coragem para uma arrumação de fundo. Leia o texto que se segue e verá que ainda vai subir ao sótão para revisitar o velho aparelho e o confortar com umas palmadinhas de saudosa amizade. Se descontinuou o seu leitor/gravador de VHS foi porque descobriu, como o resto do mundo, as virtudes do DVD. Nada se pode comparar à qualidade do digital. As dobras na fita, o tracking, os drops, tudo desapareceu, que alívio. Que diferença na qualidade da imagem. Os menus, a opção de legendas em várias línguas, ou de as não ter, simplesmente. Os extras. Os ângulos de câmara. As diferentes versões de áudio. Até os comentários dos actores e do realizador sobrepostos ao filme. Não há comparação. É claro que você copiou para DVD duas ou três cassetes absolutamente inapagáveis. E a partir daí esqueceu o velho formato analógico. Ganhou em qualidade e em es

Os Formatos de Imagem

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O leitor é assumidamente um cinéfilo exigente. Escolhe ver bons filmes nas salas com condições mais apropriadas. Em casa vê TV e DVD’s atribuindo relevância ao formato de exibição. Prefere versões originais a dobragens, e versões integrais sem cortes nem intervalos. Haverá melhor fruição de uma obra do que vê-la nas condições exactas em que foi concebida pelos seus autores? Repare então no cenário alternativo, e veja se lhe é familiar? Entra-se no café, no restaurante, ou mesmo na casa de um amigo que ostenta um moderno televisor de plasma, de formato panorâmico, e qual é a primeira “modernidade” que nos salta à vista? A imagem esticada, deformada, recortada, ou “adaptada” ao formato do televisor num “aproveitamento” total da área útil do aparelho. O programa de TV é emitido no tradicional formato de 4:3, mas a aparente fobia a faixas de negro, resolve o assunto de outra forma. Há várias técnicas de maltratar a imagem. Veja aqui algumas e valide-as num local próximo de si: Técnica 1 –

Francisco e o power point

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Francisco Pinto Balsemão apresentou no dia 12 de Março (há 3 semanas) os Resultados Anuais do Grupo Impresa . São 39 slides que merecem alguma atenção. Para fora, para consumo público, Balsemão tem produzido um discurso alarmista, quase catastrofista quanto à crise e aos negócios, que visa protegê-lo e vitimizá-lo face às dificuldades da concorrência e do mercado. Mas para consumo interno, para accionistas, parceiros estratégicos e para team building dos quadros do grupo, montou no aconchego de um hotel um cenário diametralmente oposto: optimista e de sedução, fundamentado nos dados reais do exercício financeiro das suas empresas. Vejamos os números e o power point de Balsemão. Segundo a Impresa a queda anual do mercado publicitário, em televisão, foi de 2,4% . A crise nas televisões de que Balsemão tanto fala traduz-se, na SIC, em 2,4% de diminuição das receitas publicitárias. De fazer inveja a qualquer fábrica ou unidade industrial deste país – atravessar os anos de crise de forma