A Ferramenta
Todos os dias é utilizado por milhões de pessoas para alterar a realidade – transformá-la naquilo que os olhos querem ver.
Para muita gente é um instrumento permanente de trabalho por isso lhe chamam ferramenta.
Retocar, recriar, inventar, mudar, alterar, retirar, aumentar, renovar... é interminável a lista de verbos regulares que se podem ajustar aos pequenos gestos que fazem a rotina do utilizador de Photoshop.
Nas mãos do fotógrafo, sonhador, refazem-se sombras, removem-se acnes e rugas e muitas jovens modelo, candidatas à perfeição, vêem a celulite sumir-se das suas fotos de portfolio.
Nas mãos do gráfico, cismático, compõem-se colagens e fotomontagens, construindo narrativas que, apenas com palavras, não se poderiam contar.
Nas mãos do publicista, finório, desenham-se bolhas de condensação, tentadoras, que nascem do seco das embalagens haurindo-nos a sede e o desejo.
Nas mãos do director de campanha, demagogo, apagam-se detalhes indesejados do fácies cansado do político, retiram-se-lhe papos, olheiras e agrisalha-se o penteado.
Nas mãos do agente de turismo, sedutor, troca-se betão por palmeiras de areal e azul, recortam-se e colam-se famílias felizes em fundos tropicais onde nunca estiveram.
Nas mãos do director de arte, diligente, recolhe-se mobiliário urbano limpando cidades das vistas enfadonhas da modernidade.
Nas mãos do falsificador, sombrio, truncam-se partes, alteram-se nomes e detalhes, refazendo sucedâneos de verdade.
Nas mãos do pornógrafo, assanhado, agigantam-se glândulas, embelezam-se órgãos ao sabor do desejo maníaco do espectador.
Nas mãos do vendedor, previdente, etiquetam-se preços, anexam-se legendas, transformando fotografias em folhetos de catálogo comercial.
Nas mãos do artista, romântico, filtra-se o mundo em sépias, contrastes, saturações e highlights de aguarela.
Nas mãos do caricaturista, mágico, deforma-se a figura recriando, com ironia e humor, visões ostensivas do mundo.
Que bom terem inventado o photoshop.
Photoshop é o nome do programa de manipulação de imagem que se impôs comercialmente como standard de mercado. Existem outros programas como, por exemplo, o GIMP (GNU Image Manipulation Program), igualmente sofisticados e poderosos e de utilização gratuita.
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