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A mostrar mensagens de agosto, 2012

Concessionar a consciência

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Petar Meseldžija - Giants and the Bullfight Numa altura em que a RTP tanto precisa do carinho público, e o público tanto precisa de uma RTP distinta, logo aparece a costela marialva da televisão e espeta um ferro curto nessa relação de confiança.

Bilhete de ida

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Preservo as raízes, mas perdi as razões, Excelências. Obrigado Senhor Presidente e meus Senhores, pela carta de embarque. Aceito viajar com bilhete de ida, para qualquer destino, desde que me deixem levar caneta e um prontuário ortográfico. A ser possível levaria também o dicionário de Sinónimos, sempre me poderia corresponder com Vossas Excelências.

A parabólica

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Serafim já tinha trabalhado na manutenção, já tinha experimentado ser motorista e assistente de reportagem, mas pediu para voltar ao emissor. Em Monsanto o trabalho era bem mais calmo. Longe do frenesim dos estúdios é que se sentia bem. É certo que as ajudas de custo e as refeições – às vezes em restaurantes onde Serafim nunca teria entrado se as despesas não estivessem cobertas – eram um complemento importante. Mas nada se comparava àquele sossego de Monsanto. E havia a leira do feijão, cebola e nabiças, que lhe deixavam cultivar na parte baldia do centro emissor. Isso dava-lhe muito prazer e rendimento.         Comentava-se no Lumiar, por inveja ou maldade, que o trabalho no emissor era mais ou menos como ser segurança ou andar na emergência médica – se está tudo bem, não há nada para fazer. Serafim, que gostava de ser respeitado, sabia que era injusto pensar assim. Primeiro, porque atribuía a devida importância à sua categoria profissional, que gostava de

Jactância cristã.

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Ontem falhei o RIP ao Armstrong porque não estava cá. Sim, ao Neil, não ao Louis! ...esse, ainda não havia murais para partilhar RIP, na altura. Ontem foi pena, porque tudo o que toca a lua mexe com o meu, o nosso, imaginário. E o homem tocou-lhe, literalmente. O primeiro humano a chegar a três sítios: à Terra, à Lua e ao Céu. É obra! RIP para ele, pois então. Mas continuo desconsolado com esta coisa dos RIP digitais. Não pretendo ofender o sentimento e a memória dos que nos deixam. E medo da morte, tenho-o, sim. Mais do que da minha, da dos que me são queridos e próximos... e sei do que falo. Respeito, portanto. Mas, ainda que possa soar desconcertante, acho que devo dizer o seguinte: Primeiro, o RIP na comunicação da vida real não existe. É uma invenção das funerárias, dos lapidadores de mármore, que depois passou para os jornais e para o resto da comunicação social. Agora, condensado, diria mesmo, liofilizado, na muralha digital, torna-se aflitivo. Faz

Don’t complain, never explain!

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Vem aí bernarda! O “affair RTP” que rebentou esta semana parece-me coisa séria! Não tão só pelo que tenho lido, mas principalmente por aquilo que não vejo escrito. Seja o que for que “affair RTP” possa significar, estou certo que vem aí bernarda e a coisa vai ficar agreste para quem trabalha honestamente em televisão! Busco a pegada digital da gente bem posicionada na charneira deste problema. Andam todos por aqui, sabemos quem são. Não me estou a referir exclusivamente a quadros da RTP. Refiro-me a tantos outros. Ao people ligado aos players, ao comentário, às tutelas, às reguladoras, às produtoras, aos parceiros, aos agentes, aos opinion makers... A tanta gente que orbita neste universo nebuloso da “comunicação social” e nunca poupa tinta digital para matérias não contundentes. Mas agora... Estão calados! Claro, estão todos ao telefone. Garantir o futuro da folha do vencimento por lobby telefónico, é complicado Eles são o barómetro nesta câm

Super Putaria Nacional

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A história que se segue é verdadeira. Passou-se comigo nos anos 70. Em casa dos meus pais, junto à janela da sala que dava para as traseiras, havia uma mesa de design inigualável, que incorporava a televisão. O aparelho, um verdadeiro luxo, “com muito bom som e uma imagem muito clarinha” como elogiavam os vizinhos, vivia pousado numas pernas aflitivamente esguias, porque assim o determinava o gosto da época, e convivia com um naperon e uma peça de loiça decorativa na prateleira de baixo, nada mais. Da sóbria carcaça do móvel televisor sobressaiam meia dúzia de botões – o On/Off, o Som, o Claro/Escuro, e uma botoeira em sequência, para comutação de canais (VHF e UHF), já preparada para um total de seis estações. Não havia comandos nem controlo remoto. Talvez porque não tivessem ainda sido inventados, nem fariam sentido. O país satisfazia-se com dois canais de televisão – aliás, um e meio, porque o “segundo” só emitia a certas horas. Mudar de canal era uma co