O empata-canais
As declarações do ministro Augusto Santos Silva (ASS) acerca do esvaziamento do concurso público para o quinto canal de televisão são deselegantes e humilhantes para ambas as candidaturas derrotadas.
Nem o projecto da Telecinco, nem o da Zon são "televisões de vão de escada", como acusou o ministro.
O projecto Telecinco configura uma estação de televisão moderna com a envergadura das grandes televisões privadas generalistas.
A proposta Zon2 traduz-se numa televisão menos ambiciosa, menos apropriada à classificação de "generalista", vocacionada para servir de montra promocional aos conteúdos do cabo, mas ainda assim, profissional, e adequada aos objectivos que a Zon definiu.
Foram ambos feitos por equipas multi-disciplinares de profissionais da Comunicação e nenhum dos técnicos envolvidos merecia ser enxovalhado nesta fase de (temporária) derrota.
Mas, claro, o problema não é dos candidatos ao quinto canal, é do ministro.
ASS tem mau perder, e também não sabe comportar-se à altura, quando ganha.
A acidez que lhe ferve na alma é superior ao esforço de contenção que o dever de missão pública (que lhe pagamos), mereceria.
Na euforia da vitória, mal tinham passado 24 horas sobre a decisão reprobatória, já ASS “malhava” nos reprovados, humilhando-os profissionalmente e assumindo, na substância das declaração, a paternidade da decisão da ERC.
ASS poderia ter-se demarcado da decisão, poderia ter simulado que foi apenas espectador do veredicto da Entidade Reguladora, mas não. Quis deixar claro de onde emanam as orientações. Por tabela, ASS humilha também os (3) comissários que a executaram a seu mando, remetendo-os para a figura de meros executantes, de correias de transmissão do aparelho partidário. Para concluir com “cereja no topo”, ASS escolheu desferir a perfídia em sede de uma Comissão Parlamentar de Ética. ASS é o ministro que temos.
O escândalo ERCgate do quinto canal ainda irá fazer correr muita tinta, e provavelmente, acabará nos tribunais com decisões que pouco abonarão o comportamento e a política do actual ministro.
Para que conste, convém deixar aqui algumas verdades que o ministro quis ignorar.
O projecto "vão de escada" da Telecinco, representa:
- um bem público e social gratuito. Uma oferta alternativa à televisão generalista existente.
- pago e montado por capitais privados. O investimento é totalmente privado e ronda os 18 milhões de euros.
- com elevadas receitas para o Estado. O quinto canal não representa despesa, nem ónus financeiro para o Estado. Pelo contrário, o Estado receberá dinheiro, tributação directa e impostos, do operador do quinto canal.
- com garantia de suporte financeiro. O investimento assegura a subsistência económica do canal nos primeiros três anos de actividade (pressuposto da candidatura).
- com a criação de 330 novos postos de trabalho directos, e muitos indirectos, com contratos sem termo (compromisso da candidatura).
- sujeito a avaliações intercalares (bienais) da ERC, para a eventualidade de incumprimento do alvará, o que não acontece com os outros canais licenciados (pressuposto do concurso público).
A decisão salomónica de ASS, apenas motivada pelo forte preconceito pessoal, desperdiça ainda a capacidade tecnológica já preparada pela PT para acolher conteúdos de televisão digital e atrasa Portugal na convergência com a Europa no cumprimento dos calendários comunitários de TDT.
Pelo que faz e pelo que diz ASS envergonha-nos. A missão pública que lhe confiaram deveria impor competência, integridade e elevação.
Não o queríamos, mas é o ministro que temos, por enquanto.
João Salvado
Realizador de televisão
Sócio e co-autor do projecto TELECINCO
Nem o projecto da Telecinco, nem o da Zon são "televisões de vão de escada", como acusou o ministro.
O projecto Telecinco configura uma estação de televisão moderna com a envergadura das grandes televisões privadas generalistas.
A proposta Zon2 traduz-se numa televisão menos ambiciosa, menos apropriada à classificação de "generalista", vocacionada para servir de montra promocional aos conteúdos do cabo, mas ainda assim, profissional, e adequada aos objectivos que a Zon definiu.
Foram ambos feitos por equipas multi-disciplinares de profissionais da Comunicação e nenhum dos técnicos envolvidos merecia ser enxovalhado nesta fase de (temporária) derrota.
Mas, claro, o problema não é dos candidatos ao quinto canal, é do ministro.
ASS tem mau perder, e também não sabe comportar-se à altura, quando ganha.
A acidez que lhe ferve na alma é superior ao esforço de contenção que o dever de missão pública (que lhe pagamos), mereceria.
Na euforia da vitória, mal tinham passado 24 horas sobre a decisão reprobatória, já ASS “malhava” nos reprovados, humilhando-os profissionalmente e assumindo, na substância das declaração, a paternidade da decisão da ERC.
ASS poderia ter-se demarcado da decisão, poderia ter simulado que foi apenas espectador do veredicto da Entidade Reguladora, mas não. Quis deixar claro de onde emanam as orientações. Por tabela, ASS humilha também os (3) comissários que a executaram a seu mando, remetendo-os para a figura de meros executantes, de correias de transmissão do aparelho partidário. Para concluir com “cereja no topo”, ASS escolheu desferir a perfídia em sede de uma Comissão Parlamentar de Ética. ASS é o ministro que temos.
O escândalo ERCgate do quinto canal ainda irá fazer correr muita tinta, e provavelmente, acabará nos tribunais com decisões que pouco abonarão o comportamento e a política do actual ministro.
Para que conste, convém deixar aqui algumas verdades que o ministro quis ignorar.
O projecto "vão de escada" da Telecinco, representa:
- um bem público e social gratuito. Uma oferta alternativa à televisão generalista existente.
- pago e montado por capitais privados. O investimento é totalmente privado e ronda os 18 milhões de euros.
- com elevadas receitas para o Estado. O quinto canal não representa despesa, nem ónus financeiro para o Estado. Pelo contrário, o Estado receberá dinheiro, tributação directa e impostos, do operador do quinto canal.
- com garantia de suporte financeiro. O investimento assegura a subsistência económica do canal nos primeiros três anos de actividade (pressuposto da candidatura).
- com a criação de 330 novos postos de trabalho directos, e muitos indirectos, com contratos sem termo (compromisso da candidatura).
- sujeito a avaliações intercalares (bienais) da ERC, para a eventualidade de incumprimento do alvará, o que não acontece com os outros canais licenciados (pressuposto do concurso público).
A decisão salomónica de ASS, apenas motivada pelo forte preconceito pessoal, desperdiça ainda a capacidade tecnológica já preparada pela PT para acolher conteúdos de televisão digital e atrasa Portugal na convergência com a Europa no cumprimento dos calendários comunitários de TDT.
Pelo que faz e pelo que diz ASS envergonha-nos. A missão pública que lhe confiaram deveria impor competência, integridade e elevação.
Não o queríamos, mas é o ministro que temos, por enquanto.
João Salvado
Realizador de televisão
Sócio e co-autor do projecto TELECINCO
Comentários
Mas, convenhamos, não é com esses que Portugal sairá da cepa torta. Falta é saber se o país quer dela sair. Se não quer, então é só aguardar que um dia deste o ministro Santos Silva apareça na televisão a dizer que na altura em que estava quase a saber viver sem comer... Portugal morreu.