Incipit
Aujourd’hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas - é assim que começa L'Étranger, O Estrangeiro, de Camus. Por qualquer razão insondável a frase de arranque ficou-me colada na memória, tanto quanto a obra. É mais que um incipit. Não é apenas uma frase de início, é um arrastão que leva consigo a energia, a entropia que o romance irá desenvolver. “Aujourd’hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas”, habitando silenciosa na minha memória, baixei-a para a escrita duas vezes. Há sete anos, no dia em que a frase literalmente fez sentido, e uns anos depois, quando faleceu o meu pai - pese embora a discordância de género a dor da perda paterna é-lhe equivalente. Conheci, aquando da universidade de Aveiro, no Toc'Aqui jazz bar da Praça do Peixe, estabelecimento que acolhia os serões vazios de tantos docentes e quadros deslocados na cidade, uma professora do departamento de Línguas que gostava de falar de cultura e literatura, sobretudo da francesa. Um dia fa...