Hollywood aqui tão perto!



Estúdios da SP Televisão, produtora de conteúdos – ficção, séries, novelas e o que mais houver, ou lhes venha a ser encomendado.
Zona suburbana de S. Marcos, Sintra, a poucos metros de uma via rápida, em linha recta, mas a quilómetros dela pelo acesso da velha estrada.

Almoço no restaurante da produtora a convite de amigos que gerem a empresa.
O pretexto da visita é profissional. Equipamentos, tecnologia, sistemas.
Mas, circulando pelos estúdios, o olhar escapa-se-me sempre pela observação das peças, dos objectos mundanos, que evocam apetitosos ambientes cénicos.
Tudo o que a nossa memória consiga espremer de anos de ficção televisiva se vem encontrar nestes locais.
Num estúdio vivo, viaja-se sempre entre cenografias. Algumas em utilização e rodagem; outras arrumadas, em desuso; outras em construção, para servirem histórias cuja identidade ainda não é conhecida.
São salões, quartos, jardins interiores, cabinas de avião, leitos de cama para romance e sexo... que nos remetem para marcas como Podia acabar o mundo, Liberdade XXI, Conta-me Como Foi, Pai à Força, Vila Faia, Malucos do Riso, e outros.
Passo apertado por carreiros entre adereços de casa rica, pobre ou remediada... mobiliário e acessórios do Século XIX ou dos anos 60... viçosas plantas de plástico, uma esquadra de polícia, bancos de escola primária desproporcionadamente grandes, aquários de marisqueira... de tudo se encontra no backstage de um bom estúdio de televisão, como no baú de quarto de uma criança gigante.

Saio do estúdio pela porta dos fundos, enfrentando com dificuldade a luz do dia, para deparar com a mais surpreendente peça cenográfica da visita. Por detrás de um muro, já em terreno alheio, espreita um pino de mobiliário urbano com um emaranhado de sugestões de destino, que me passaria despercebido, não fora o local onde está implantado e o embaraço de lugares para que aponta.
Detenho-me a observá-lo enquanto me explicam com ironia:
- O edifício aqui ao lado é de uma empresa de sinalética... pelos vistos eles gostam de guardar parte do catálogo cá fora!
O meu interlocutor sorri e segue, indiferente, em direcção ao carro estacionado no parque, mais a baixo. Eu fico mais alguns momentos a olhar a peça, a observá-la, como se ela requeresse melhor interpretação.
Pensei – aqui mesmo virado para a porta de um estúdio de televisão... terá sido posto com que intenção? Talvez seja um desafio... uma provocação, uma pista inspiradora?
Mas acho que não. Bati a fotografia, avancei para o carro e assumi – se fosse uma provocação teriam acrescentado Hollywood 9116 km.

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